3ª PERGUNTA
Por que alguns procedimentos médicos que utilizam o próprio sangue do paciente são assunto de decisão pessoal?
O parágrafo continua dizendo:
Embora os cristãos não doem sangue nem o armazenem para seu próprio uso em transfusões, certos procedimentos ou exames envolvendo o sangue da pessoa não entram tão claramente em conflito com princípios bíblicos. Por essa razão, cada um deve tomar uma decisão consciente quanto a se aceitará ou não certos procedimentos médicos que envolvam o uso de seu próprio sangue.
Mais uma vez é salientado aqui as duas fortes oposições da parte da Sociedade, e por conseguinte, de toda a comunidade de Testemunhas de Jeová em todo o mundo, obrigadas a seguir estas directrizes, sem margem para a consciência pessoal:
Não se pode doar sangue (mesmo que seja para ser usado para ser transformado em fracções e assim beneficiar outros, como as próprias TJ são beneficiadas);
Nem podem armazenar o seu próprio sangue, retirado antes de uma operação de grande risco, que sendo seu não acarreta os perigos mais comuns que o sangue alheio poderia acarretar, a saber, doenças sexualmente transmíssiveis, tais como hepatite, SIDA (AIDS), entre muitos outras.
Sendo assim, a lógica seria de que o sangue da pessoa não poderia ser usado em caso algum. Era lógico e coerente se fosse assim. Mas será que é mesmo assim?
Bem, o parágrafo dá a resposta dizendo certos procedimentos ou exames envolvendo o sangue da pessoa não entram tão claramente em conflito com princípios bíblicos.
Assim, apesar de a Sociedade ser absolutamente dogmática, na recusa do uso do próprio sangue como transfusão no paciente, numa intervenção cirúrgica de algum risco, ainda assim abre uma "margem legal" (em sentido religioso) para uso desse mesmo sangue. Parece confuso não é?
Então vejamos o próximo parágrafo que elucida melhor este ponto.
Ao tomar essas decisões, pergunte-se: Se parte de meu sangue for desviado do meu corpo e sua circulação for interrompida, minha consciência ainda assim me permitirá encará-lo como parte de mim, não sendo necessário ‘derramá-lo no chão’? (Deut. 12:23, 24) Minha consciência treinada pela Bíblia ficaria perturbada se durante um procedimento médico parte de meu sangue fosse retirado, modificado e colocado novamente em meu corpo? Tenho consciência de que ao recusar todo procedimento médico que envolva meu próprio sangue também estarei rejeitando tratamentos como a diálise ou o uso da máquina coração-pulmão? Considerei com oração esse assunto antes de tomar uma decisão?*
*Nota de rodapé: Informações úteis encontram-se em A Sentinela de 15 de Outubro de 2000, páginas 30-1 e no DVD Alternativas à Transfusão - Série de documentários.
Conforme revela este parágrafo, coloca-se um dilema a cada TJ que se vê confrontada quando prestes a sofrer uma cirúrgia em que o sangue seja necessário, como parte do processo.
É deixado à consciência individual o uso do seu sangue numa operação em que este possa ser reinfundido no seu corpo, após ter passado pelo processo de ser retirado e modificado artificialmente.
A nota de rodapé traz à atenção a pergunta dos Leitores, na Sentinela de 15 de Outubro de 2000, que diz na sua totalidade:
Perguntas dos Leitores
Tendo em vista as ordens bíblicas sobre o uso apropriado do sangue, como as Testemunhas de Jeová encaram os procedimentos médicos que usam o sangue do próprio paciente?
Em vez de decidir simplesmente com base em suas preferências ou em recomendações médicas, o cristão deve considerar seriamente o que a Bíblia diz. Esse é um assunto entre ele e Jeová.
Jeová, a quem devemos a vida, determinou que o sangue não fosse consumido. (Gênesis 9:3, 4) Na Lei dada ao antigo Israel, Deus limitou o uso do sangue porque esse representa a vida. Ele ordenou: “A alma [ou vida] da carne está no sangue, e eu mesmo o pus para vós sobre o altar para fazer expiação pelas vossas almas.” E se a pessoa matasse um animal para comer? Deus disse: “Neste caso tem de derramar seu sangue e cobri-lo com pó.” * (Levítico 17:11, 13) Jeová repetiu essa ordem vez após vez. (Deuteronômio 12:16, 24; 15:23) O Chumash judaico, de Soncino, observa: “O sangue não deve ser armazenado, mas tornado impróprio para consumo por ser despejado no solo.” Nenhum israelita devia apropriar-se do sangue de outra criatura, cuja vida pertencia a Deus. Tampouco devia armazenar ou usar tal sangue.
A obrigação de cumprir a Lei mosaica terminou quando o Messias morreu. Contudo, o conceito de Deus sobre a santidade do sangue não mudou. Sob influência do espírito santo de Deus, os apóstolos orientaram os cristãos a ‘abster-se de sangue’. Essa ordem devia ser levada a sério. Em sentido moral, era tão importante quanto se abster da imoralidade sexual ou da idolatria. (Atos 15:28, 29; 21:25) Quando a prática de doar e transfundir sangue se tornou comum no século 20, as Testemunhas de Jeová entenderam que ela entrava em conflito com a Palavra de Deus. *
Às vezes, o médico incentiva o paciente a se submeter à coleta de seu próprio sangue semanas antes da cirurgia (doação autóloga pré-operatória, ou DAPO) para que, se houver necessidade, ele possa transfundir o sangue do próprio paciente. Contudo, o ato de coletar, armazenar e transfundir o sangue é diretamente contrário ao que é dito em Levítico e em Deuteronômio. O sangue não deve ser armazenado; deve ser derramado — devolvido a Deus, por assim dizer. É verdade que a Lei mosaica não está mais em vigor. Contudo, as Testemunhas de Jeová respeitam os princípios que Deus incluiu nela, e estão decididas a ‘abster-se de sangue’. Por isso, não doamos sangue, nem armazenamos para transfusão nosso sangue, que deve ser ‘derramado’. Essa prática entra em conflito com a lei de Deus.
Outros procedimentos ou testes envolvendo o sangue da própria pessoa não entram tão claramente em conflito com os princípios declarados por Deus. Por exemplo, muitos cristãos permitem que parte de seu sangue seja retirada para fazer testes ou análises, após o que o sangue é descartado. Às vezes, os médicos também recomendam outros procedimentos mais complexos envolvendo o sangue.
Por exemplo, durante certos procedimentos cirúrgicos, parte do sangue do paciente pode ser desviada do corpo num processo chamado hemodiluição. O sangue que continua no corpo do paciente é diluído. Algum tempo depois, aquele sangue que se encontra no circuito externo é reinfundido em seu corpo, fazendo com que a contagem de células sanguíneas fique mais próxima do normal. Similarmente, o sangue que sai de uma incisão pode ser recolhido e filtrado para que os glóbulos vermelhos sejam devolvidos ao paciente; isso é chamado de recuperação sanguínea. Num processo diferente, o sangue pode ser desviado para um aparelho que temporariamente exerce a função normalmente desempenhada por órgãos do corpo (como coração, pulmões ou rins). Depois, o sangue que está no aparelho é reinfundido no paciente. Em outros procedimentos, o sangue é desviado para uma centrífuga a fim de que as partes prejudiciais ou defeituosas possam ser eliminadas. Ou talvez o objetivo seja isolar certa quantidade de um componente do sangue e aplicá-la em outra parte do corpo. Há também testes em que uma quantidade do sangue é retirada com o objetivo de ser marcada ou misturada com medicamento, após o que é reintroduzida no paciente.
Os detalhes podem variar, e certamente surgirão novos procedimentos, tratamentos e testes. Não nos cabe analisar cada variação e apresentar uma decisão. Cada cristão deve decidir como seu próprio sangue será manipulado no decorrer de um procedimento cirúrgico, exame médico ou terapia que o paciente está recebendo no momento. Ele deve obter do médico ou do técnico, com antecedência, os fatos sobre o que pode ser feito com seu sangue durante o procedimento. Então, deve decidir de acordo com sua consciência. (Veja o quadro.)
Os cristãos devem ter em mente sua dedicação a Deus e a obrigação de ‘amá-lo de todo o coração, alma, força, e mente’. (Lucas 10:27) Ao contrário da maioria das pessoas, as Testemunhas de Jeová dão muito valor à sua relação com Deus. O Dador da Vida exorta todas as pessoas a confiar no sangue derramado de Jesus. Lemos: “Mediante ele [Jesus Cristo] temos o livramento por meio de resgate, por intermédio do sangue desse, sim, o perdão de nossas falhas, segundo as riquezas de sua benignidade imerecida.” — Efésios 1:7.
[Nota(s) de rodapé]
^ parágrafo 4 O professor Frank H. Gorman escreve: “Entende-se que o derramamento do sangue é um ato de reverência que demonstra respeito pela vida do animal e, conseqüentemente, respeito por Deus, que criou e continua a cuidar daquela vida.”
^ parágrafo 5 A revista A Sentinela de 15 de julho de 1959 respondeu a perguntas-chave sobre esse assunto, mostrando por que as transfusões de sangue doado não são apropriadas.
[Quadro/Fotos na página 31]
PERGUNTAS A CONSIDERAR
Se parte de meu sangue vai ser desviada de meu corpo, com a possibilidade do fluxo ser interrompido por um tempo, será que minha consciência me permitirá encarar esse sangue ainda como parte de mim, não exigindo assim que ele seja ‘derramado no solo’?
Minha consciência treinada pela Bíblia ficaria perturbada se durante um procedimento diagnóstico ou terapêutico, parte de meu próprio sangue fosse retirada, modificada e reintroduzida (ou aplicada) em meu corpo?
Se parte do meu sangue for desviado do meu corpo e a sua circulação for interrompida, será que a minha consciência me permite encará-lo ainda como parte de mim, não sendo necessário 'derramá-lo no chão'? (Deut. 12:23, 24)
Aqui, a questão é colocada de forma a ponderar se durante a cirurgia, a TJ está disposta a considerar o uso de uma máquina que aproveite o seu sangue, o armazene em depósitos próprios (muitas das vezes nesta operação o sangue é filtrado e/ou modificado) e novamente reinfundido no seu corpo.
Esta máquina, chamada cell saver é utilizada já em muitos hospitais para cirúrgias com TJ. Durante esta operação, o corpo do paciente fica ligado permanentemente à máquina cell saver, de forma que na sua consciência (conforme regulado pela Sociedade!), a pessoa pode considerar a máquina como uma extensão do seu próprio corpo. Isto tem sido considerado assim, visto que o sangue que sai do corpo circula quase ininterruptamente entre a máquina e o paciente, como no caso da hemodiálise.
Mas notaram que a pergunta, já não é apenas a circulação extra-corpórea, quase contínua?
A pergunta claramente se refere a Se parte do meu sangue for desviado do meu corpo e a sua circulação for interrompida. Assim, mais uma barreira é quebrada. Não apenas é uma circulação do sangue fora do corpo e novamente reinfundido de forma quase contínua, mas agora PODE haver uma interrupção desse processo, sabe-se lá durante quanto tempo. Pode até mesmo ser durante horas!
Assim, que base existe para rejeitar a colecta do sangue pré-operatória, para mais tarde reinfundir? Será na base de Deut. 12:23, 24? Bem, se fosse assim, no caso da questão levantada sem dúvida também se aplicaria!
Ficaria a minha consciência treinada pela Bíblia perturbada se durante um procedimento médico parte do meu sangue fosse retirado, modificado e colocado novamente no meu corpo?
Aqui novamente traz à atenção este processo utilizado com a máquina cell saver.
Tenho consciência de que ao recusar todo o procedimento médico que envolva o meu próprio sangue também estarei a rejeitar tratamentos como a diálise ou o uso da máquina coração-pulmão?
Aqui está uma pergunta amedrontadora! Se recusar os processos anteriores, certamente teria, para ser coerente, de recusar por exemplo a diálise ou o uso da máquina coração-pulmão. E quem sabe quantos mais processos médicos. Esta pergunta força seriamente a uma ponderada (forçada?) decisão no sentido de aceitar os tratamentos propostos e aceites pela Sociedade.
Na realidade, é o tudo ou nada.
Considerei este assunto com oração antes de tomar uma decisão?
Palavras para quê?