CARTA DE DISSOCIAÇÃO DE
Gerson e Katiane
Carta de Desligamento
Aos irmãos da Congregação Marco
"A Igreja Católica ocupa posição muitíssimo significativa no mundo, e afirma ser o caminho da salvação para centenas de milhões de pessoas. Qualquer organização que assuma tal posição deve estar disposta a ser esmiuçada e criticada. Todos que criticam têm a obrigação de ser verdadeiros na apresentação dos fatos, e justos e objetivos na avaliação dos mesmos." - Despertai! 22/12/1984, pág 28.
As palavras acima foram uma resposta dos editores da revista Despertai! a um leitor católico que se sentiu ofendido com uma matéria da revista sobre uma visita do Papa e também sobre a Igreja Católica. Entendemos que por essa declaração que a própria organização deveria "estar disposta a ser esmiuçada e criticada" nas suas doutrinas e estrutura, afinal não são poucas as vezes que a organização se apresenta por meio de suas publicações, como o "caminho para a salvação", embora o próprio Jesus tenha declarado em João 14:6 que ELE é o "CAMINHO, A VERDADE E A VIDA", e não uma organização humana, por mais que alegue ser baseada em mandamentos e princípios divinos. Por exemplo, no tempo de Jesus, a organização de Deus na época, ou seja, o sistema judaico de adoração estava repleto de erros doutrinais, de normas e tradições que "invalidavam a Palavra de Deus" (Mateus 15:6), isso é uma prova de que qualquer organização religiosa hoje pode se imaginar estar fazendo a vontade de Deus, mas na verdade estar repleta de erros, tanto nos seus ensinos e doutrinas, como na maneira como funciona e está organizada. Acreditamos que a organização das Testemunhas de Jeová, em especial a sua liderança, os homens do Corpo Governante, se encontra exatamente nessa situação. A seguir, apresentamos algumas das muitas razões que temos para chegar a essa conclusão.
FALSAS PROFECIAS
"Tomem cuidado com os falsos profetas, que se chegam a vocês em pele de ovelha, mas que por dentro são lobos vorazes" - Mateus 7:15.
A história das Testemunhas de Jeová está marcada, desde o tempo em que se chamavam "Estudantes da Bíblia", por uma série de predições e datas para o fim que não se cumpriram.
Sabemos por exemplo, conforme se pode atestar no livro "O Reino de Deus já governa", que Charles Taze Russel e seus associados pregaram e tinham forte esperança de que iriam ascender ao céu, em 1914, quando Deus trouxesse o fim do sistema e das religiões falsas. Como é fácil de atestar nada disso se cumpriu. Resultado: muita frustração, questionamentos e dissidência por parte de alguns, por causa da óbvia conclusão de que tudo isso se tratou de nada mais do que uma profecia fracassada. Embora a organização sempre diga que experiências assim são "refinamentos" de Deus, o fato é que o próprio Deus não autorizou ninguém a fazer predições sobre o fim em seu nome, conforme Jesus declarou em Mateus 24:36: "A respeito daquele dia e daquela hora ninguém sabe, nem os anjos dos céus, nem o Filho, mas somente o Pai"
Assim fica parecendo que os homens que fazem predições sobre o fim se julgam em nível acima dos anjos e de Cristo, em relação ao conhecimento de Deus e de seus propósitos. É preciso muita coragem e ousadia, ou mesmo irresponsabilidade para tal atitude. E, quando levam muitos a acreditar nas suas falsas predições, isso se torna uma colossal falta de consideração para com a boa fé dos outros. Quanta responsabilidade, na verdade, têm perante Deus esses homens!
Achamos assim, porque outras datas foram marcadas para o fim, como 1915, 1925, 1942, 1975, 1984 (no caso da geração que presenciou os acontecimentos em torno de 1914 e não passaria) com o mesmo resultado: somente especulação humana e profecias fracassadas. Todas essas datas e predições estão muito bem documentadas nas próprias publicações das Testemunhas de Jeová. O que deixa claro que não se trata de "material apóstata", como o corpo governante costuma classificar qualquer fonte de matéria que o critica.
O AMOR QUE NUNCA ACABA
"Por meio disto todos saberão que vocês são meus discípulos: se tiverem amor entre si" - Jo13:35.
Desde os nossos primeiros contatos com as Testemunhas de Jeová temos lido à exaustão que esse texto se aplica às próprias Testemunhas de Jeová e à sua organização, mas os fatos têm mostrado uma realidade bem diferente. Por exemplo, como Jesus, que é o nosso modelo, tratou aquelas pessoas que eram consideradas "pecadoras" e indignas de consideração por parte dos líderes religiosos judeus da sua época? Será que a maneira como as Testemunhas de Jeová têm tratado as pessoas que saem da organização tem alguma semelhança com a maneira com que Cristo tratava as pessoas que erravam? Será que a prática da desassociação como é feita é realmente um "ato de amor" para com o pecador? É assim mesmo que Deus age, ou conforme lemos na parábola do filho pródigo, em Lucas 15:11-32? Na verdade, como ilustrado nessa parábola, Deus está atento mesmo de longe à situação de quem peca, e assim como o pai da ilustração, não exige um arrependimento forçado do pecador, nem o isola da convivência com os demais, para fazer pressão ou chantagem emocional, até o pecador "se reajustar".
Sabemos que Deus está "sempre pronto a perdoar", conforme diz o Salmo 86:5. Será que as comissões judicativas que se formam para julgar alguém têm prontidão para perdoar a quem erra, ou primeiro querem saber os detalhes do pecado, para julgar a gravidade do erro? Será que Deus age assim, escrutinando e registrando nos mínimos detalhes os pecados da pessoa? Ou ele perdoa amplamente?
Entendemos que Deus não é mesquinho em relação ao perdão que estende aos errantes, e age de maneira compassiva para com os arrependidos, conforme declarado em Isaías 1:18: "Embora os seus pecados sejam como escarlate, serão tornados brancos como a neve. Embora sejam vermelho como pano carmesim, se tornarão como a lã"
Em relação à suposta base bíblica para a prática de não falar nem cumprimentar pessoas desassociadas, conforme ordena o escravo fiel e prudente, no livro Continue a amar Deus, entendemos que essa base é inadequada, porque a publicação citada faz uso isolado de textos para justificar tal tratamento. Uma leitura atenta e honesta da segunda carta de João, em especial o versículo 7, vai nos fazer entender que os cristãos não devem cumprimentar nem receber em seus lares aqueles que se mostram por suas ações e ensinos que são anticristos . Ou seja, quem nega a Cristo e a Deus. Será que todos, ou a maioria das pessoas que saem da organização das Testemunhas de Jeová deixam de acreditar em Deus e em Cristo? Ou passam a ensinar a outros dessa maneira como anticristos?
O texto de 1 Coríntios 5:11 menciona que se deve deixar de ter convivência com "quem se chame irmão", mas que pratica os pecados ali mencionados. Então é preciso duas situações, primeiro: que a pessoa esteja entre irmãos sinceros, e se identificando também como "irmão", e, segundo, que esteja praticando algum dos pecados ali mencionados. Interessante que o texto não menciona que discordar dos ensinos de uma organização religiosa seja um motivo para a desassociação.
Além disso, o texto de 2 Tessalonicenses 3: 14,15 que também trata da questão da disciplina entre os cristãos menciona que quem erra, pode ser privado da convivência com outros, mas não pode ser considerado como inimigo, devendo ser aconselhado como irmão.
Ainda mais, o texto de Tiago 5:19,20 mostra que qualquer pessoa amorosamente pode tentar ajudar alguém que erra a voltar para os caminhos de Deus. Esses versículos relevam dois pontos interessantes, que se pode falar e cumprimentar os considerados "pecadores", que não significa necessariamente conviver com a pessoa, e que isso não é propriedade exclusiva dos anciãos
O CORPO GOVERNANTE
"O Corpo Governante não recebe revelações da parte de Deus nem é inspirado. Por isso, ele pode cometer erros ao explicar assuntos da Bíblia ou ao dar orientações" - A sentinela de estudo de Fevereiro de 2017, "Como Jeová guia seu povo hoje", parágrafo 12.
Essa declaração tem seríssimas implicações. Porque entendemos e acreditamos que muitos erros foram cometidos e ainda se cometem por parte do corpo governante das Testemunhas de Jeová. O que resultou em grande prejuízo para a vida de muitas pessoas. A proibição das transfusões de sangue e depois a liberação do uso de frações, sem qualquer base bíblica claramente expressa, por exemplo, é um caso de grave erro doutrinal. Porque a Bíblia proíbe o ato de COMER sangue não seu USO MEDICINAL. Tanto que comer sangue ou recebê-lo por meio de transfusão, resultam, cada um, em efeitos bem diferentes no organismo, justamente porque são PROCESSOS DIFERENTES.
Essa proibição é fruto da INTERPRETAÇÃO particular do corpo governante, que assume que pode estar errado em questões de ensino e orientação. E as muitas vidas que se foram em consequência de se obedecer essa interpretação? Foi por lealdade a Deus que realmente morreram? Conforme o Corpo Governante reconhece, Deus NUNCA lhes revelou nada sobre essa doutrina, eles mesmo assumem que isso é só uma interpretação que surgiu com o tempo, porque nem sempre foi assim. Houve um tempo em que as Testemunhas de Jeová aceitavam transfusão de sangue. Será que Deus permitiria que seu povo escolhido vivesse um bom tempo cometendo esse "pecado grave"?
E no tempo em que a organização proibiu o transplante de órgãos, ensinando que isso equivalia a canibalismo? Quem pode ser responsabilizado pelas muitas vidas que se perderam? Deus, ou os homens não inspirados que criaram suas interpretações particulares.
Interessante que as duas atuais perguntas para o batismo reconhecem que a organização não é dirigida pelo Espírito Santo, o que se harmoniza bem com a declaração que fizeram acima citada. Então por que esses homens insistem em querer obediência e lealdade cega de outros? E por que insistem em controlar e decidir pela vida ou morte de muitos por meio de seus ensinos e doutrinas?
1914 OU UM POUCO DEPOIS
É bem conhecido e aceito entre as Testemunhas de Jeová o ensino de que Jesus teria voltado de maneira invisível em 1914, e teria assumido seu trono como Rei do Reino de Deus, para logo em seguida designar uma classe de homens aqui na terra como seus representantes. Ensina-se também que assim que Jesus assumiu poder régio uma de suas primeiras atitudes foi ter expulsado Satanás do céu, conforme a interpretação da organização das Testemunhas de Jeová para o texto de Apocalipse 12:7-12.
Essa interpretação sempre foi questionada por algumas pessoas por causa de alguns pontos controversos. As Testemunhas de Jeová costumam citar acontecimentos dessa época como "prova" de que realmente o Diabo agora estaria agindo mais decisivamente na terra. Um desses acontecimentos mais citados é Primeira Guerra Mundial (que durou de 28 de julho de 1914 a 11 de novembro de 1918)
O problema é que a Sociedade Torre de Vigia ensinou, por exemplo, no livro Poderá Viver para Sempre no Paraíso na Terra, na página 141, que Jesus teria voltado sua atenção para o reino de Deus exatamente em 1° de outubro de 1914. Mas se a Primeira Guerra já havia começado antes disso, e da expulsão do Diabo do céu, como pode ele ser responsável ou um dos causadores da Primeira Guerra?
Além dessa contradição, podemos perceber no apêndice B1, da atual versão da Tradução do Novo Mundo, que os produtores dessa versão reconhecem que Jesus pode ter voltado e expulsado Satanás do céu em 1914 OU UM POUCO DEPOIS.
Isso nos leva a pensar que a Sociedade Torre de Vigia pode estar disposta, mesmo que bem discretamente, a assumir que a data em que Jerusalém caiu às mãos dos babilônios foi mesmo o ano de 587 AEC, como a história e a arqueologia sempre apontaram de maneira bem documentada. Diferente da data de 607 AEC, que somente a Sociedade Torre de vigia ensinou. Mas se não era a verdade o que se ensinou sobre esse assunto durante décadas, então o que era? E as pessoas que discordaram desse ensino e foram prejudicadas ou expulsas da organização? E os muitos que morreram e sofreram por essa "verdade" passageira? E os tantos outros ajustes que foram feitos em muitos ensinos e julgamentos sobre o que eles consideram como a religião falsa, será que alguém pode dizer que isso era direcionado por Deus? Não parece ser o caso porque a Bíblia o descreve como Dador "de toda boa dádiva e todo presente perfeito" e que ele "não muda como sombras inconstantes" - Tiago 1:17.
A QUESTÃO DA PEDOFILIA
Ainda usando o princípio de que a organização teoricamente aceita, segundo ela mesma publicou, na Despertai! citada no início, que seja escrutinada e analisada, temos descoberto muita coisa sobre a questão do abuso sexual de menores que aconteceram em algumas congregações de muitos países. Sabemos que em volta de casos assim muito se pode especular. Mas é inegável que fatos dessa natureza aconteceram mesmo, porque foram e tem sido amplamente noticiados em fontes fidedignas de países como Estados Unidos, Austrália, Grã Bretanha, Alemanha, Portugal, Holanda, Bélgica etc. A própria revista de estudo A Sentinela de maio de 2019 reconheceu a ocorrência de casos nas congregações.
Aqui no Brasil há muitos casos. Já lemos sobre isso e vimos relatos e entrevistas de pessoas que foram vítimas. Essas pessoas apontam que a política da organização ao lidar com esses casos falhou na questão de proteger as vítimas. Por isso houve casos de indenizações milionárias em países como os Estados Unidos. Onde atualmente o Corpo Governante é réu na questão da pedofilia, sendo que, anos atrás, Geoffrey Jackson, membro do corpo governante, já compareceu perante um tribunal da Austrália para tratar dessa mesma questão.
Esses fatos não são relatados no site oficial das Testemunhas de Jeová, que só faz relatos favoráveis para a imagem da organização, como foi o caso do que aconteceu na Rússia em que as Testemunhas de Jeová foram banidas, mas o site jw.org, omitindo alguns fatos, faz parecer que a organização estava sendo vitima de perseguição religiosa, quando na verdade o governo russo considerou a prática da desassociação, que separa e divide famílias como algo nocivo para essa instituição que eles dão valor absoluto. Considerando que nenhuma religião ou doutrina deve estar acima da sagrada união familiar que Deus instituiu.
Esses são apenas alguns dos fatos e razões pelos quais temos decidido deixar a organização. Temos plena convicção de que essa foi a melhor decisão que tomamos. Sentimos agora a liberdade que Cristo prometeu a quem se torna livre das amarras de homens que criam organizações e seitas com objetivo de escravizar e explorar uma maioria de pessoas que se submetem às suas regras, por acreditarem estar servindo a Deus.
As pessoas quando leem as profecias de Jesus sobre o fim, atentam bem para as promessas de livramento que ele fez, mas esquecem que ele também nos avisou para termos muita cautela, como declarado em Mateus 24:24:
"Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e milagres a fim de enganar, se possível, até mesmo os escolhidos"
Temos plena fé e certeza que atualmente vivemos nesse tempo!
Fiquem todos na paz de Deus!
Gerson Damasceno & Katiane Almeida