QUEM REALMENTE TEM AUTORIDADE PARA JUGAR?
Sebastião Ramos
Em certos países, a pena de morte foi adotada com a finalidade de proporcionar a equidade de justiça, mas, devido o homem não ser infalível, seus julgamentos ficam a mercê de erros muitas vezes irreversíveis. Já na Idade Média, mais precisamente até meados do ano de 1.500 (Século XV) a Igreja Romana perseguiu, torturou e matou judeus, mulheres, jovens e crianças, ora através dos tribunais de exceção da Santa Inquisição, ora através dos Templários, seu Exército Sagrado, matando quem discordasse de seus ensinamentos, de seus dogmas. Nem as autoridades que detinham o poder político e governamental escapavam da punição “divina”, e eram excomungadas porque não se podia jogá-las na fogueira inquisitória.
Nestes últimos dias, a palavra excomunhão, que se encontrava adormecida, voltou ao palco da grande mídia pela notícia da menina de 9 anos que foi estuprada e engravidada pelo padrasto. Os médicos que realizaram o aborto na criança detectaram clinicamente que ela não podia ter seus filhos gêmeos por correr sérios riscos de morte, e, para salvá-la, decidiram pelo ato abortivo. Contudo, a Igreja não contou pipoca, reagiu retaliando por excomungar a humilde mãe da menina, de baixa classe social, e ainda os médicos e paramédicos, fato este que levou a maioria da população brasileira e do mundo a protestar contra o padre/arcebispo que os excomungou.
Como vivemos na era da informação, as pessoas estão estarrecidas com o ressurgimento da tal EXCOMUNHÃO na Igreja Católica. Porém, não é de se admirar existir tal “castigo”, uma OUTRA, de novo tipo, aprimorada com o apelido de desassociação na Organização das Testemunhas de Jeová, e esta é muito mais cruel, para quem é desassociado. Como se dá esse processo? Através de comissão judicativa formada por integrantes de um “Corpo de Anciãos”, uma espécie de tribunal jurídico, mas de caráter religioso, que dá o veredicto para expulsar o errante. Bizarro é que aqueles anciãos são os que mais incentivam do púlpito a se praticar a lei do Cristo: “amar ao próximo como a si mesmo e a perdoar os seus inimigos”. (Lucas 10: 27)
Alguns anciãos que faziam parte deste tribunal se dissociaram por considerá-lo inaceitável perante o Deus Todo-Poderoso, Jeová. Quando um irmão é desassociado ou pede dissociação, passa a ser evitado por toda a irmandade e visto como uma pessoa iníqua, e pasmem: todos os seus amigos que cultivou durante 10, 20, 30 ou mais anos, ficam terminantemente proibidos de dirigir-lhe a palavra. Os excessos não param por aí, pois chegam ao cúmulo de restringir as conversas ou qualquer tipo de comunicação, mesmo que seja entre entes queridos, familiares, incluindo pai, mãe e filhos. "Desde que me dissociei (há 22 anos), minha mãe nunca mais falou comigo por eu ser para ela uma mundana. ... Você acredita que na passagem do ano 2000 para 2001, pela primeira vez, a minha mãe me ligou para dizer que queria se despedir de mim porque ela sabia que o Armagedom ia acontecer naqueles dias e eu iria morrer, então ela queria me dizer adeus? Olha, você não pode imaginar como eu sofro com isso: ter minha mãe querida, mas não a ter. Costumo dizer que é uma dor maior do que se minha mãe querida tivesse falecido, afinal, não tenho mais minha mãe..." (M. P. Marques; Fonte: http://indicetj.com). Já os associados, podem enfrentar uma comissão judicativa também, caso persistam em manter contato com desassociados.
Todos sabemos que a maior das torturas que um ser humano pode sofrer não é a física, mas sim a psicológica. Veja, por exemplo, o que disse a psicóloga Scheylla Riedmiller da UFC – Universidade Federal do Ceará: “Eu imaginava que a excomunhão havia acabado junto com a inquisição, qual foi a minha surpresa ao ver que ela continua de forma piorada, em todos os seus aspectos. Para meu espanto numa religião que a admirava - a das Testemunhas de Jeová. A devastação emocional causada nestas pessoas pode levá-las a um estado de desespero mental, e acarretar danos psicológicos, imprevisíveis”.
Quando o filho pródigo decidiu ir embora da casa de seu pai, para viver num país distante, solicitou a sua herança e a esbanjou nos entretenimentos permissivos do mundo. Quando surgiu uma seca naquela região, ele começou a passar fome por não ter dinheiro para comprar alimentos, então caiu em si e retornou à casa de seu pai. Quando vinha chegando às proximidades, ao avistá-lo, seu pai correu ao seu encontro e, amorosamente, lhe abraçou e beijou readmitindo instantaneamente o seu filho querido. Esta parábola se discerne em sentido espiritual. O pai representa Deus, e o filho, um desassociado. Uma pergunta: Você iria a uma casa se as pessoas não falassem com você, vez após vez? Pois saibam que é assim a recepção para um desassociado quando chega ao Salão do Reino das Testemunhas de Jeová. Ninguém olha pra ele e quando olha é com desprezo e desconfiança. Nem mesmo o cumprimentam. Para que ele venha a ser readmitido, terá que passar muito tempo ou anos assistindo as reuniões. Poderíamos nos perguntar: Se Cristo estivesse no Salão do Reino e presenciasse um cenário como este, será que permaneceria calado, ou chamaria a atenção dos anciãos? Que os leitores reflitam (a parábola do filho pródigo, em sua íntegra, está no livro de Lucas: 5: 11-32).
A Bíblia nos proporciona leis específicas para a disciplina, no entanto, é preciso ter cuidado para não abusar da autoridade quando o sentimento alheio está em jogo. A Igreja Católica, por se achar PORTADORA da infalibilidade papal, seus dirigentes se embruteceram e praticaram toda sorte de truculência contra pessoas indefesas, ficando na história como uma alerta para TODAS as religiões.
O presidente dos EUA, Barack Obama, está prestes a criar uma pasta em seu governo para lidar com as religiões organizadas, pelos sérios riscos de sectarismo e de intolerância. Discursando para uma platéia, veja o que ele falou: “A política depende de nossas habilidades de persuadir uns aos outros de objetivos comuns com base em sua realidade comum. Em algum nível fundamental, a religião não permite negociar, é a arte do impossível. Se Deus falou, então se espera que os seguidores vivam de acordo com os editos de Deus, a despeito das consequências ”. A problemática de se propor algo na religião é porque cada uma acredita na sua interpretação particular do que lê na Bíblia, e muitas vezes textos mal aplicados têm levado a muitos equívocos e a julgamentos injustos. Os tempos são outros. Se no passado não se podia questionar o dogmatismo religioso, agora os próprios governos estão ficando mais intrépidos para questionarem.
Portanto, perante a discriminação que os desassociados estão enfrentando, reivindico a comissão de Direitos da Pessoa Humana da ONU, a propor um ordenamento jurídico para que seja devolvida a dignidade e o tratamento condigno a essas pessoas que foram desassociadas da organização das testemunhas de Jeová; não para cercear direitos religiosos, mas para amenizar a dor emocional que sentem, até porque não se tem notícias de tantos excessos serem praticados em outras religiões. Conclusivamente, eu diria que, se os governantes conseguirem demolir estas coisas entrincheiradas, seria um grande alívio para aqueles que sofrem com a desassociação, e, sobretudo, uma HONRA para O Eterno Deus e Excelso Criador que é o único que conhece as nossas motivações, e tem a AUTORIDADE MÁXIMA para julgar com justiça.