CARTA DE DISSOCIAÇÃO
ANDRÉA FORTE GADÊLHA
Fortaleza, 24 de outubro de 1988
Ao Corpo de Anciãos da Congregação Sudeste,
Venho por meio desta, comunicar ao corpo de anciãos da congregação Sudeste, o meu desligamento da organização da Sociedade Torre de Vigia, por estar convicta depois de muitas reflexões, que esta não é a religião verdadeira.
Quero expressar também que o meu amor ao meu querido Deus Jeová continua inabalável e minha fé "exclusivamente bíblica" continua firme e forte.
É triste depois de tantas amizades, ver que sair dessa Organização é um processo bastante doloroso, pois temos que nos afastar daqueles a quem amamos sem que nenhum de vocês possa biblicamente me mostrar que pecado cometi para tal julgamento, que com certeza não vem do Pai.
E quando vejo bem clara a frase tão proferida em tantos discursos: "não julgueis para não serdes julgados", percebo que enquanto estive nessa Organização, inúmeras vezes se fez o contrário do que se proferia e assim lembro-me dos Fariseus que estavam aparentemente "limpos por fora, mas imundos por dentro..."
Quero também expressar que os meus sentimentos de carinho e gratidão para com muitos irmãos continuam guardados no meu coração e não os culpo por não enxergarem a trave que está em seus olhos, mas pediria que fizessem uma auto-análise para realmente em sã consciência nos seus pensamentos verem se realmente não tenho razão.
Sei que em prol desta Organização muitos deixaram famílias, trabalhos, faculdades e depois de tanta abdicação é difícil voltar atrás.
Acredito que independentemente de religião, o esforço de cada um de vocês será contado por este Pai amoroso que percebe as motivações de cada coração que quer serví-lo, assim como eu que desde pequena, o quis e continuarei com este pensamento até o fim dos meus dias, e sei que por mais humildes que tenhamos de ser, sempre existe uma vaidade de se ocupar um lugar de destaque, seja dentro da religião ou em qualquer outro lugar no qual nos sintamos valorizados e isso também pesa bastante para nos prendermos a esses lugares.
Quero dizer também que aprendi muitas coisas boas das quais levarei como ensinamento para o resto de minha vida, pois não divergem das escrituras. Em qualquer lugar que formos ou qualquer pessoa que venhamos a conhecer, sempre poderemos absorver o que de melhor elas têm para nos oferecer para com certeza sermos pessoas melhores, e foi isso que tentei e tento fazer apesar da minha imperfeição.
E agora, agradeço a Jeová por saber que apesar de todos vocês desejarem ser advogados das minhas convicções, minha liberdade de pensamento e faculdade de raciocínio, seus julgamentos se limitam apenas a esta religião, pois sabemos que só quem conhece o meu ser é Jeová Deus. Este pode me julgar com perfeição. Assim, me sinto feliz por saber que não estou mais debaixo de julgamentos puramente humanos, falíveis e imperfeitos e assim me lembro do exemplo de Maria Madalena do qual Cristo disse que atirassem a primeira pedra quem não tivesse pecado.
A verdade jamais temerá a mentira. Se investigássemos a verdade dos fatos, talvez descobríssemos que por muito tempo estavámos vivendo numa mentira.
Sinceramente,
Andréa Forte Gadêlha