OS PODERES DA MENTE
Odracir
O 'pastor' Russell considerava a telepatia como um fenômeno real, muito embora não arriscasse um palpite sobre a natureza dela. Em uma reimpressão de A Sentinela, ele expressa seu ponto de vista:
"Quanto a como as preces de alguém podem beneficiar outro, não podemos saber. Não temos informação suficiente para filosofar sobre isso muito profundamente. Nós poderíamos conjeturar certas influências mentais provindo de uma pessoa para o outra, exatamente como sabemos de influências elétricas que procedem de uma estação para outra distante milhares de milhas. Os poderes da mente são algo não compreendido. Uma mente pode influenciar outra sem palavras, por algum poder telepático."
A relutância de Russell em assumir uma postura definida sobre a telepatia abriu campo para que seus seguidores prosseguissem investigando-a em busca de sua real natureza. Em 1925, a revista A Idade de Ouro - edição de 25 de fevereiro - publicou o artigo "O Poder da Mente", da autoria do Dr. A. P. Pottle. Em um trecho do artigo, ele diz:
"Está demonstrado que as substâncias químicas são muito lentas para permitir cálculos rápidos, e isso prova que o pensamento é conduzido por um sistema de vibração eletrônica. O Dr. Abrams foi o primeiro a demonstrar essa teoria por meio de um instrumento mecânico. Também explica aquilo que até agora se considerava o mistério da assim chamada telepatia, leitura de mentes e intuição feminina, dos quais o Pastor Russell falou em algumas ocasiões."
Aqui vemos, mais uma vez, o apoio expresso à teoria estapafúrdia do charlatão Albert Abrams, desta vez, elevando-a à condição de verdadeira 'pedra filosofal' - a descoberta que explicaria todos os fenômenos paranormais. Mais adiante, o autor separa inteiramente a 'técnica' de Abrams dos fenômenos demoníacos e alerta os leitores quanto ao perigo desses últimos. Não é de admirar que, uma vez tendo encontrado uma forma 'segura' de captar as 'vibrações' mentais - aquela que põe as pessoas a salvo das influências malignas - os redatores da Sociedade Torre de Vigia fossem tomados de um empolgação incomum pelas ondas de rádio. A ignorância deles não só serviu de combustível para a promoção de dispositivos inócuos, com muitos prejuízos ao bolso (foram anunciados ao preço de 35 dólares) e à saúde, como expôs a comunidade de 'Estudantes da Bíblia' à exploração de charlatões e místicos.
A edição de 1 de julho de 1925 de A Idade de Ouro (p. 631) publicou um artigo ainda mais curioso, intitulado "Cada Humano como um Aparelho de Rádio". Nele, Clayton Woodworth introduz:
"Nós estamos recebendo recortes intitulados, 'São as Ondas de Rádio Mentais uma Possibilidade?' e 'Retratos do vazio', os quais relatam as experiências de diversas pessoas em receber, com ou sem aparatos, quadros e mensagens que eles não conseguem explicar. Eu não tenho dúvida, é claro, de que os fenômenos aqui listados são, em larga medida, demoníacos, mas eu também estou seguro de que nem todos o são. De fato, este recorte esclareceu alguns mistérios para mim... os seres humanos por todo o universo serão capazes de conversar uns com os outros à vontade, instantaneamente, e sem instrumentos de qualquer sorte... todo ser humano é um embrião de estação de rádio..."
A ignorância científica de Woodworth, bem como sua crença incondicional nos ensinos de Russell certamente contribuíram para que ele endossasse algumas fraudes científicas de seu tempo. Nessa condição, era também pouco provável que ele conseguisse discernir a linha divisória entre ficção científica e ocultismo. É lamentável que ele, estando na posição de editor-chefe de uma publicação que era considerada um 'instrumento do Senhor' - publicada por uma organização 'messiânica' - atraísse muitos 'Estudantes da Bíblia' para o contato com aquilo que diziam repudiar, o ocultismo. Talvez isso nos ensine uma lição sobre o risco de alguém se por diante de homens para lhes obedecer, tornando-se, por conseqüência, 'escravo' deles (Romanos 6: 16).
É irônico que o poder de influir na mente de outros, entendido por 'Woodworth e Cia' como 'ondas de rádio', fosse exercido por eles próprios - não por estações 'virtuais' - mas pelo poder da palavra escrita. Talvez o único poder mental que tinham era o de convencer milhares a os acompanharem em seus delírios religiosos.