"PRECISAMOS DE LOCAIS DE ADORAÇÃO?"
- A PERGUNTA É ÓTIMA; MAS A RESPOSTA...
Você já reparou quantas vezes nós lemos um artigo na Sentinela ou Despertai! porque achamos a pergunta interessante, apenas para descobrir, no final, que não temos a resposta? Pois bem, se isso já lhe aconteceu, não se preocupe! Você não é o único que lê, re-lê, repete o processo e não encontra a resposta. É assim mesmo! A Sociedade Torre de Vigia faz isso de propósito.
Muitas vezes a Torre simplesmente não têm a resposta, e muitas vezes ela têm a resposta mas deseja que você tire uma conclusão que a ponha em luz favorável. A análise que você vai ler a seguir revela como a Sociedade usa muito habilmente uma técnica de redação que além de não responder a questão levantada ainda deixa as Testemunhas de Jeová como os "corretos".
Há muitos artigos nas publicações da Sociedade Torre de Vigia que caem nesta categoria, mas vamos nos concentrar em um, por ter sido publicado recentemente. O título de capa desta A Sentinela é Precisamos de Locais de Adoração? Esta é uma boa pergunta, não acha? Uma definição comum para "local de adoração" é um local – templo, igreja, sala ou salão, catedral etc. - onde as pessoas se reúnem para adorar a Deus; ou seja, "local de adoração" seria qualquer edifício utilizado principalmente para reuniões religiosas. Esta Sentinela dedica dois artigos a responder a esta pergunta.
A Sentinela de 15 de novembro de 2002
Vamos analisar estes artigos com atenção para ver se conseguimos a resposta? Comecemos pelo segundo parágrafo do primeiro artigo (página 3) onde o autor diz o seguinte:
"Edifícios religiosos ocupam um lugar especial no coração de muitos que desejam adorar a Deus."
Até aqui tudo bem, pois "locais de adoração" e "edifícios religiosos" são a mesma coisa. Só que o autor já neste parágrafo dá uma indicação sobre o que ele de fato têm em mente quando diz "locais de adoração". O autor cita Maria, do Brasil, que diz:
"Era um local sagrado. Eu acreditava que ir à igreja lavava a alma e que era pecado faltar à missa aos domingos e deixar de confessar".
A referência a "igreja" é clara e prossegue neste e nos dois parágrafos seguintes. A Sociedade ataca claramente não somente a fé católica mas também os locais usados pelos católicos para adorar a Deus.
No último parágrafo deste artigo de introdução o autor pergunta:
"São os prédios religiosos realmente necessários para se adorar a Deus?"
E, novamente, esta pergunta está correta, pois está absolutamente em linha com a questão levantada pelo título de capa. Mas note como a segunda pergunta é sutilmente diferente:
"Têm as basílicas e as igrejas suntuosas um precedente nas Escrituras?"
Mas, espera um pouco!, esta não foi a pergunta originalmente suscitada, foi?
Como você viu, a Sociedade gastou até aqui um artigo inteiro e tudo que fez foi claramente atacar a igreja católica e sutilmente introduzir uma pergunta nova à discussão. Nenhuma resposta até aqui. Mas tudo bem, perdoamos a Sociedade, afinal este é apenas um artigo introdutório, não é mesmo? Vamos examinar o segundo artigo, então, onde no segundo parágrafo o autor diz o seguinte:
"Quando o apóstolo Paulo escreveu estas palavras [de Hebreus 10:24] no primeiro século da nossa Era Comum, havia em Jerusalém um templo imponente que servia de local de adoração para os judeus. Havia também sinagogas. Jesus tinha 'ensinado numa sinagoga e no templo, onde todos os judeus se reuniam'. – João 18:20"
Neste ponto, precisamos de locais de adoração? Sim.
Note a sutil menção de "sinagogas", pois lá na frente você vai entender porquê. No terceiro parágrafo o autor usa a mesma técnica usada no último parágrafo do artigo anterior. Somos perguntados:
"Será que os edifícios religiosos da cristandade têm algum precedente no templo em Jerusalém?"
Tudo bem com esta pergunta. Mas veja a seguinte:
"Quando os que professavam ser cristãos passaram a usar grandes prédios religiosos?"
Nos próximos quatro parágrafos, o autor dá uma longa explicação sobre algo que a maioria dos Cristãos, e mesmo aqueles com muito pouco conhecimento da Bíblia, sabe: o povo de Deus do passado tinha locais de adoração, tais como o tabernáculo e o templo.
Neste ponto, precisamos de locais de adoração? Aparentemente sim.
"'Não ficará pedra sobre pedra'"
Durante todo este sub-tópico o autor cita Jesus e o apóstolo Paulo para provar que os cristãos não precisam de locais de adoração. Entre as frases mais contundentes está esta encontrada no segundo parágrafo da página 6:
"Em resposta Jesus disse: "Acredita-me, mulher: vem a hora em que nem neste monte, nem em Jerusalém, adorareis o Pai." Não haveria mais a necessidade de um templo material para adorar a Jeová, porque Jesus explicou: "Deus é espírito, e os que o adoram têm de adorá-lo com espírito e verdade." (João 4:20, 21, 24) O apóstolo Paulo disse mais tarde aos atenienses: "O Deus que fez o mundo e todas as coisas nele, sendo, como Este é, Senhor do céu e da terra, não mora em templos feitos por mãos." – Atos 17:24"
Observe como o autor enfatiza a palavra "templo". O leitor desatento não perceberá que o sentido da palavra "templos" conforme usada em Atos 17:24 significa qualquer templo, ou local de adoração/reunião. A Sociedade também não explica que Jesus, em João 4:20 (acima citado), não decretou a destruição do templo; ele apenas previu que isso aconteceria. É debaixo deste sub-tópico que Francisco, do Brasil, é citado, e lá vai mais ataque à igreja católica.
"Para mim a igreja passou a simbolizar tudo que é tedioso e cansativo na religião. A missa era uma cerimônia sem significado, repetitiva e distante das minhas reais necessidades. Torcia para que acabasse logo."
O leitor aqui é novamente confundido pois ele talvez não perceba que há uma diferença entre o conteúdo de uma sessão de adoração - que é ao que o Francisco se refere - e o local de adoração.
Neste ponto, precisamos de locais de adoração? Não.
"A congregação que está na casa deles"
Uma coisa que você não deve perder de vista é que as Testemunhas de Jeová têm um sem- número de locais de adoração chamados Salões do Reino espalhados pelo mundo; é óbvio que o autor do artigo da Sentinela têm de achar uma forma de justificar isso. O primeiro parágrafo da página 7 termina com a seguinte frase que revela, ao melhor estilo, a habilidade da Torre de Vigia de confundir o leitor:
"A adoração praticada pelos verdadeiros cristãos não exige prédios religiosos suntuosos."
Os outros dois parágrafos promovem a sinagoga como correto local de adoração. Veja este trecho:
"Ao passo que os judeus se reuniam no templo para as suas festividades anuais, as sinagogas em cada cidade serviam para se aprender a respeito de Jeová e obter instrução na lei. Era nas sinagogas que as pessoas oravam, liam as Escrituras e escutavam explicações e exortações".
A frase acima é uma meia-verdade pois o templo também era usado para o ensino sobre Deus e a obtenção de instrução na lei. Veja a seguir apenas alguns exemplos do que a Bíblia diz sobre Jesus, por exemplo, ensinar no templo, derrubando completamente a fundação que a frase acima tenta construir (todos da Tradução do Novo Mundo):
"Ora, tendo ele entrado no templo, chegaram-se a ele os principais sacerdotes e os anciãos dentre o povo, ao estar ele ensinando, e disseram: 'Com que autoridade fazes estas coisas? E quem te deu esta autoridade?" Mateus 21:23.
"E não deixou ninguém carregar qualquer utensílio através do templo, mas ensinava e dizia: "Não está escrito: 'Minha casa será chamada casa de oração para todas as nações?' Mas vós fizestes dela um covil de salteadores". Marcos 11:16, 17
"No entanto, ao dar uma resposta, Jesus começou a dizer, ao ensinar no templo: "Como é que os escribas dizem que o Cristo é filho de Davi?". – Marcos 12:35.
"Outrossim, ia diariamente ensinar no templo. Mas os principais sacerdotes, e os escribas, e os principais do povo, estavam buscando destruí-lo". – Lucas 19:47
"Assim, de dia ele ensinava no templo, mas de noite saía e pousava no monte chamado Monte das Oliveiras. E todo o povo, de manhã cedo, ia ter com ele no templo, para ouví-lo" – Lucas 21:37, 38.
"Enquanto eu estava convosco no templo, dia após dia, não estendestes as vossas mãos contra mim. Mas esta é a vossa hora e a autoridade da escuridão". - Lucas 22:53.
Mas defender a sinagoga como o "modelo" a ser seguido é uma forma de pavimentar o caminho para o que será defendido nos parágrafos finais que formam o último sub-tópico do artigo, a saber, o uso de Salões do Reino.
Neste ponto, precisamos de locais de adoração? Sim.
Congregações que visam à edificação
Debaixo deste sub-tópico o autor do artigo passa a defender os Salões do Reino como locais de adoração. De adoração? Bem, o primeiro parágrafo da página 8 abre com as seguintes palavras:
"As Testemunhas de Jeová, assim como os primeiros cristãos, reúnem-se em locais simples de adoração para receber instrução da Bíblia e ter companheirismo edificante".
Apesar da frase acima, nos parágrafos seguintes, quando os Salões do Reino são mencionados, são cuidadosamente chamados de "locais de reunião". No penúltimo parágrafo, Francisco é de novo citado, e de novo ele fala de conteúdo mas a Sociedade confunde o leitor, inserindo isso numa discussão sobre se precisamos ou não do local de adoração. Primeiro, Francisco diz:
"O primeiro local de reuniões onde estive era um prédio confortável num local central da cidade e me causou uma boa impressão".
Isto é totalmente irrelevante para a discussão em pauta. Senão vejamos: se, digamos, a igreja católica, tiver um prédio confortável, bem localizado na cidade, e causar uma boa impressão, tudo bem então?
Depois o Francisco diz:
"Essas reuniões têm vida e atendem minhas necessidades espirituais."
Tudo bem, Francisco, mas não é disso que estamos falando, é?
Agora, com a leitura do artigo concluída, precisamos de locais de adoração? Depende. Se estes forem Salões do Reino, sim. Se não, não. Para a Torre, não há problema algum que a lógica e a coerência sejam desprezadas. Esta é a Sociedade Torre de Vigia, no seu melhor estilo! Simplesmente impressionante!
Para mais um fantástico exemplo de como a Sociedade desafia a lógica quando responde a certas perguntas, veja a Sentinela de 22 de Abril de 2002, cuja capa traz o título "Importa o Modo Como Adoro a Deus?", onde o autor "prova" por A mais B, numa série de ataques às outras religiões, especialmente a igreja católica, que as pessoas estão abandonando as religiões organizadas e, no final, ele faz um caloroso convite para o leitor se converter às Testemunhas de Jeová. Pode?