REVISIONISMO DA SOCIEDADE TORRE DE VIGIA DE 1914
Nas suas publicações, a Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados tem retratado de modo falso as opiniões escatológicas dos Estudantes da Bíblia do século 19, principalmente no que se refere a 1914.
Neste artigo vamos provar que isso não tem sido simplesmente um erro inocente cometido num período ou grupo de publicações isolados. Essa enganadora descrição de uma harmonia entre as crenças actuais e passadas a respeito da Parousia tem sido uma prática constante ao longo de cerca de 50 anos, e encontramo-la em livros, brochuras, anuários, revistas e panfletos publicados pela WTBTS.
A edição de 1.º de Novembro de 1952 da revista The Watchtower [A Sentinela] na página 658 disse:
"Quanto ao tempo da segunda presença de Cristo, é a profecia de Daniel que mais uma vez nos dá a cronologia. (Dan. 4:16) Reconheceu-se que apontava para 1914 AD, e a The Watchtower [A Sentinela] chamou a atenção para o significado de 1914 no ano 1879."
Realidade: A revista Zion's Watch Tower [A Torre de Vigia de Sião] não predisse que 1914 seria o "tempo da segunda presença de Cristo". Durante mais de 53 anos, eles ensinaram claramente e sem qualquer ambiguidade que a data para a segunda presença tinha sido 1874.
A edição de 1.º de Abril de 1953 da Watchtower disse na página 215:
"Portanto, não foi por acaso que homens e mulheres devotos começaram a ser reunidos e conduzidos para fora da cristandade sem fé, a partir do ano 1870. Deus propôs-se usá-los como organização para fazer uma trabalho com duas vertentes. Primeiro, eles têm de proclamar que os tempos dos gentios que começaram em 607 A.C. terminariam em 1914 A.D., altura em que Jeová tomaria para si mesmo o seu poder oficial e começaria a reinar nos céus através do seu Rei ungido. Assim, esta proclamação foi feita durante cerca de 35 anos antes de 1914."
Realidade: Os Estudantes da Bíblia não podiam ter feito "durante cerca de 35 anos antes de 1914" a proclamação de que o reino de Cristo começaria em 1914, porque foi claramente ensinado até 1922 que a data para esse acontecimento tinha sido 1878.
A edição de 15 de Junho de 1954 da Watchtower disse na página 370:
"Então, por que as nações não se apercebem nem aceitam a aproximação deste clímax de julgamento? É porque eles não acataram o anúncio mundial sobre a volta de Cristo e a sua segunda presença. Desde muito antes da Primeira Guerra Mundial as testemunhas de Jeová apontaram para 1914 como sendo a época em que este grande acontecimento ocorreria."
Realidade: Novamente, as TJ não podiam ter apontado para 1914 "desde muito antes da Primeira Guerra Mundial" como sendo a data para esse grande acontecimento. Elas ensinaram claramente até à década de 1930 que esse acontecimento tinha ocorrido em 1874.
O livro Do Paraíso Perdido ao Paraíso Recuperado, de 1959, disse na p. 170, parágrafo 10:
"No número de março de 1880 da revista "A Sentinela" em inglês disseram: "Os Tempos dos Gentios estendem-se até 1914, e o reino celestial não dominará plenamente até então." Dentre todas as pessoas, apenas as testemunhas apontavam para 1914 como o ano em que o reino de Deus seria plenamente estabelecido no céu."
"Os Tempos dos Gentios" estendem-se até 1914, e o reino celestial não dominará plenamente até então, mas como uma "Pedra", o reino de Deus é estabelecido "nos dias destes (dez) reis (gentios)," e ao consumi-los, torna-se um reino universal -- uma "grande montanha, e enche a terra inteira."Russell não predisse que o Reino de Deus seria estabelecido no céu em 1914. Ele ensinou que o Reino seria estabelecido na terra em 1914 e acreditava que já tinha sido estabelecido no céu em 1878.
"Os fatos históricos mostram que foi em 1919 que os do restante na terra, dos 144.000 herdeiros do Reino, começaram a ser libertos da Grande Babilónia. Naquele ano começou a ser pregada de casa em casa e publicamente a mensagem do reino estabelecido de Deus, pelas testemunhas cristãs de Jeová, de modo destemido. Esta pregação do Reino, como estabelecido em 1914, se fez em cumprimento da profecia de Jesus em Mateus 24:14: "Estas boas novas do reino serão pregadas em toda a terra habitada, em testemunho a todas as nações.""
Realidade: Mais uma vez, essa afirmação é incorrecta. Não foi senão em 1925 que a pregação a respeito de 1914 que os Estudantes da Bíblia tinham feito no passado, foi "espiritualizada" para significar um acontecimento celestial invisível. Em 1919, os Estudantes da Bíblia ainda esperavam um estabelecimento do reino na terra, que segundo acreditavam aconteceria em 1925.
A edição de 15 de Julho de 1965 da Watchtower disse na p. 428:
"Ao olharmos para trás no tempo, podemos ver claramente como a organização e Deus nos tempos modernos tem progredido em entendimento. Por exemplo, entendeu-se que a segunda presença de Cristo seria em espírito, e não na carne como muitos professos cristãos acreditavam. O seu governo seria exercido a partir dos céus. Esta era uma nova revelação de grande importância para o povo de Deus que tinha estado ansiosamente à espera da segunda presença de Cristo em fins do século dezenove."
Realidade: Esta citação falta à verdade em dois pontos distintos. Primeiro, os Estudantes da Bíblia não estavam "ansiosamente à espera da segunda presença de Cristo". Desde o seu aparecimento em 1879, o principal jornal deles intitulava-se Zion's Watch Tower and Herald of Christ's Presence [Torre de Vigia de Sião e Arauto da Presença de Cristo] porque o seu objectivo era chamar a atenção para o facto de que Cristo já estava presente desde 1874. Segundo, Russell não publicou nada antes de 1877 que indicasse que a volta de Cristo seria invisível e segundo o livro The Harp of God [A Harpa de Deus, edição de 1921, p.238 (em inglês)], foi só em 1875 que ele adoptou essa ideia de uma volta de Cristo invisível. Portanto, não se pode correctamente dizer que Russell ensinou seja o que for acerca "do que aconteceria no futuro", mas apenas sobre o que "já tinha acontecido no passado".
A edição de 15 de Setembro de 1966 da Watchtower disse na página 557:
«Em particular, eles anunciaram que o ano 1914 era um ano marcado para o término dos "tempos dos Gentios" (Lucas 21:24, AV) e para o estabelecimento do reino de Cristo no céu.»
Realidade: Os Estudantes da Bíblia certamente não anunciaram o ano 1914 como sendo "o tempo para o estabelecimento do reino de Cristo no céu" [pois, conforme foi dito acima, eles acreditavam que isso tinha acontecido em 1878].
O Anuário das Testemunhas de Jeová de 1976 disse na página 37:
"Até mesmo antes disso, contudo, C. T. Russell escreveu um artigo intitulado "Tempos dos Gentios: Quando Terminam?" Foi publicado no Bible Examiner de outubro de 1876, e nele Russell disse: "Os sete tempos terminarão em 1914 A. D." Vinculara corretamente os Tempos dos Gentios com os "sete tempos" mencionados no livro de Daniel. (Dan. 4:16, 23, 25, 32) Comprovando tais cálculos, 1914 deveras marcou o fim desses tempos e o nascimento do reino de Deus no céu, tendo a Cristo Jesus como rei. Pense só nisso! Jeová concedeu tal conhecimento a Seu povo cerca de quatro décadas antes de tais tempos expirarem."
Realidade: Foi só em 1925 que os Estudantes da Bíblia começaram a ensinar que 1914 marcou o nascimento do reino de Deus no céu com Cristo Jesus como rei. Jeová não deu aos Estudantes da Bíblia esse conhecimento "cerca de quatro décadas antes de esse tempos terminarem."
O Anuário das Testemunhas de Jeová de 1978 disse na p. 205:
"Alguns cujas expectativas quanto a 1914 eram demasiadas ficaram desapontados e abandonaram a verdade. Mas, na maior parte, os irmãos continuaram fiéis. Atualmente sabemos que eles estavam certos ao crer que os Tempos dos Gentios, de 2.520 anos, terminariam por volta de 1.° de outubro de 1914. O reino messiânico então começou a reger no céu. Um dos maiores eventos da história humana havia ocorrido, e os irmãos tinham tido o privilégio de participar em anunciá-lo!"
Realidade: Mais uma vez, é feita a afirmação de que o estabelecimento do reino messiânico celestial em 1914 tinha sido anunciado pelos Estudantes da Bíblia antes do ano 1914, o que é falso. Nesse tempo, os Estudantes da Bíblia estavam a anunciar o ano 1878 como sendo o início do governo messiânico. Além disso, este excerto descreve o desapontamento que se seguiu ao falhanço de 1914 como sendo apenas o resultado de "alguns" terem 'demasiadas expectativas'. Ora isso é muito enganador [é uma distorção]. Qualquer pessoa que tivesse realmente lido e acreditado no que foi publicado pela Watch Tower Bible and Tract Society [Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados], tanto na revista Zion's Watch Tower [A Torre de Vigia de Sião] como na série de livros Studies in the Scriptures [Estudos das Escrituras], teria ficado desapontada.
A edição de 15 de Agosto 1985 da Sentinela disse na página 32:
"Russell e seus associados compreenderam prontamente que a presença de Cristo seria invisível. Dissociaram-se de outros grupos e, em 1879, começaram a publicar alimento espiritual na Torre de Vigia e Arauto da Presença de Cristo (em inglês). Desde o primeiro ano de publicação, esta revista apontava, com base em sólidos cálculos bíblicos, para a data de 1914 como data que marcaria época na cronologia bíblica. Portanto, quando começou a presença invisível de Cristo em 1914, felizes eram esses cristãos por terem sido encontrados vigiando!"
Realidade: No que diz respeito à Parousia, não é correcto dizer que Russell ensinou acerca do que 'aconteceria no futuro', ele só ensinou acerca do que 'já tinha ocorrido no passado'. Mais ainda, é deixado implícito que os Estudantes da Bíblia atribuíam à data 1914 o mesmo significado que as TJ lhe atribuem actualmente, o que é completamente falso.
A Sentinela de 1 de Setembro de 1985 disse na página 25:
"Os cristãos do fim do século 19 e do início do século 20 foram habilitados a viver na expectativa do governo do Reino de Deus bem antes de 1914 porque calcularam quando haviam de terminar "os tempos designados das nações"."
Realidade: O "governo do Reino" na expectativa do qual eles "puderam viver" era um governo do reino na terra.
O livro A Vida -- Qual a Sua Origem? A Evolução ou a Criação?, publicado em 1985, disse nas pp. 227, 229, parágrafos 31, 32:
"A Bíblia também forneceu evidência cronológica de que 1914 assinalaria o nascimento do Reino celeste de Deus, a ser acompanhado por dificuldades mundiais sem precedentes. Mas, será que alguém que vivia lá naquele tempo estava cônscio de que 1914 marcaria tal momento decisivo na História? Décadas antes dessa data, havia uma organização de pessoas que tornavam conhecido o significado de 1914."
Realidade: Os Estudantes da Bíblia não fizeram nada disso! A afirmação de que "o significado de 1914", tal como era entendido pelos Estudantes da Bíblia "décadas antes dessa data", incluía o conhecimento de que "1914 marcaria o nascimento do Reino celestial de Deus" e o princípio de "dificuldades mundiais sem precedentes", é completamente falsa.
A publicação de 1986 intitulada As Testemunhas de Jeová -- Unidas em Fazer Mundialmente a Vontade de Deus disse na p. 8, parágrafos 5 e 6:
"Russell e seus associados compreenderam também que a presença de Cristo seria invisível, em espírito. Os Tempos dos Gentios, durante os quais a soberania de Deus não estava sendo expressa por meio de algum governo na terra, terminariam em 1914. Então se estabeleceria no céu o Reino de Deus. Estes ensinos identificam hoje as Testemunhas de Jeová. Russell e seus companheiros divulgaram amplamente essas verdades por meio de discursos e pela página impressa."
Realidade: Russell e seus companheiros não fizeram nada disso. Eles não ensinaram que 1914 presenciaria um estabelecimento do Reino no céu [acreditavam que isso já tinha ocorrido em 1878]. Esta "espiritualização" da predição foi feita muito depois de 1914 ter passado. Mais ainda, no que diz respeito à Parousia, não é correcto dizer que eles compreenderam algo quanto ao que "seria", pois eles tinham adoptado o conceito de uma presença invisível a ocorrer desde 1874.
A edição de 22 de Março de 1993 da Despertai! disse na página 10:
"Se estiver propenso a achar que tudo isso é utopia, bom demais para ser verdade, pare e reflita. Além das particularidades do sinal múltiplo da presença de Cristo Jesus, a cronologia bíblica indica que em 1914 teve início a sua presença. As Testemunhas de Jeová divulgaram que 1914 foi um ano significativo no desenvolvimento do domínio do Reino de Jeová sobre a Terra, fazendo-o na revista A Sentinela de julho de 1879. Muitos historiadores e observadores dos assuntos mundiais notaram que o ano de 1914 introduziu um período inteiramente diferente e significativo na História humana".
Realidade: Esta citação falta à verdade em pelo menos três aspectos distintos. Em primeiro lugar: O número de Julho de 1879 da Zion's Watch Tower não menciona a data 1914 nem os tempos dos Gentios. A primeira vez que essa revista mencionou o ano 1914 foi no número de Dezembro de 1879, página 3, onde diziam que 1914 seria o fim do "dia da ira." A ideia de que os "Tempos dos Gentios" se prolongam até 1914 só é mencionada pela primeira vez no número de Março de 1880, página 2. Em segundo lugar: Essa cronologia não apontava para 1914, mas sim para 1874, como sendo o início da "presença invisível de Cristo." Em terceiro lugar: Russell predisse que em 1914 todos os reinos do mundo e religião falsa já teriam sido destruídos e o reino de Deus já teria sido estabelecido na terra. Portanto, ele não "predisse" a Primeira Guerra Mundial, porque acreditava que as nações já teriam sido destruídas em 1914.
A edição de 15 de Setembro de 1998 da Sentinela disse na p. 15, parágrafo 1:
"De modo similar, uma profecia fez providencialmente com que sinceros estudantes da Bíblia, no século 19, estivessem em expectativa. Por relacionarem os "sete tempos" de Daniel 4:25 com "os tempos dos gentios", eles esperavam que Cristo recebesse o poder do Reino em 1914."
Realidade: Os Estudantes da Bíblia do século 19 acreditavam que Cristo tinha recebido o poder do Reino em 1878. Eles não estavam à espera de 1914 como sendo o ano em que Cristo receberia o poder do Reino. A ideia de que este acontecimento ocorreu em 1914 só surgiu em 1925.
A partir desta amostra de citações, pode ver-se que no que diz respeito a 1914, a Sociedade Torre de Vigia tem vindo a fazer revisionismo em proporções colossais. Pode ainda constatar-se que este revisionismo tem sido uma prática habitual ao longo de quase 50 anos, não foi simplesmente um erro inocente numa ou duas publicações.