TESTEMUNHA DE JEOVÁ PEDEM EXPLICAÇÕES
António Marujo
Mais de mil cartas foram enviadas de Espanha
Em causa está "hipocrisia" da liderança das TJ em relação às Nações Unidas
Em causa está "hipocrisia" da liderança das TJ em relação às Nações Unidas
Quase 1200 pessoas que hoje participam numa reunião de anciãos (responsáveis locais) das Testemuhas de Jeová receberam esta semana uma carta enviada de Espanha por críticos internos, contestanto a actuação da liderança deste grupo religioso, no que diz respeito a uma inscrição nas Nações Unidas. Conforme o PÚBLICO noticiou em Outubro último, a Sociedade Torre de Vigia (STV), o órgão dirigente das TJ a nível mundial, esteve inscrito durante 10 anos num organismo das Nações Unidas, organização que é designada em publicações do grupo como "a coisa repugnante" e a "besta escarlate" referidas no livro bíblico do Apocalipse (ou "Revelação").
As cartas enviadas de Espanha - a cujo conteúdo o PÚBLICO teve acesso através de informação que circula na internet e cuja autenticidade foi possível confirmar - foram dirigidas a anciãos e "salões do reino" (a designação das comunidades locais das TJ) da Alemanha, Suíça e Áustria. De acordo com as informações recolhidas, a remessa das cartas foi feita por várias dezenas de pessoas, algumas das quais também anciãos, ou seja, detentores de cargos com responsabilidade local dentro das Testemunhas de Jeová.
Entre os destinatários, estão mais de 160 mil TJ, reunidos em 2150 congregações, de acordo com números da "Sentinela" citados na informação deste grupo de críticos
De acordo com o texto da carta, os remetentes - cujas vozes críticas têm considerado a inscrição na ONU como uma "hipocrisia" - pedem que os anciãos perguntem aos responsáveis que estarão presentes na reunião porque é que a STV não informou ninguém sobre a inscrição na ONU, em qualquer uma das três publicações regulares - "A Sentinela", "Despertai" e "Ministério do Reino" - e durante os 10 anos em que a inscrição esteve efectiva. Também sugerem que se pergunte porquê, perante as inúmeras cartas de membros das TJ a perguntar o que se passava, a resposta era sempre lacónica, sugerindo depois uma "conversa; com o corpo local de anciãos.
A reunião de hoje é uma "escola" de anciãos, ou seja, uma acção de formação destes responsáveis locais. Em princípio, participam praticamente todos os anciãos da Alemanha e alguns de fala alemã oriundos da Suíça e da Áustria, num total que deve situar-se entre os seis mil e os nove mil participantes. De acordo com a dinâmica do encontro, os participantes ouvirão uma sucessão de discursos, que tratam essencialmente de questões jurídicas. Mas os remetentes da carta crítica esperam que, nos intervalos, alguns deles ousem fazer perguntas aos mais responsáveis.
Na carta que convocava este encontro da Alemanha, os críticos recordam que era dito por duas vezes que não se podia gravar, de nenhuma forma, os discursos da "escola de anciãos".
A inscrição no Departamento de Informação Pública (DPI) da ONU foi feita em 1991, ficando registada no leque de organizações não-governamentais disponíveis para colaborar com as Nações Unidas. De acordo as declarações do porta-voz das TJ em Portugal, Pedro Candeias, em Outubro, ela foi justificada "por causa de poder dar ajuda humanitária e defender os direitos humanos em diversos países do mundo". Mas terá sido, dizem os críticos, apenas perante a divulgação pública da informação, que a STV decidiu desvincular-se daquele registo no início de Outubro. E, pelos vistos, esses mesmos grupos de contestários não está satisfeito com as explicações dadas até agora pelos responsáveis.