PARTE 1
O "CASO VICKY BOER"
- TESTEMUNHAS DE JEOVÁ EXIGEM QUE MULHER PAGUE AS CUSTAS
DE SEU PRÓPRIO PROCESSO DE ABUSO SEXUAL
Mensagem postada pelo Silent Lambs, em 24/07/2003
TORONTO (CP) – Um mulher que recebeu US$5.000 por danos depois de acusar a ala canadense das Testemunhas de Jeová de negligência ao lidar com as acusações de abuso sexual está sendo solicitada a pagar parte dos custos legais do grupo religioso, US$160.000, despendidos no caso.
Vicky Boer, 32, que alega ter sofrido ataques sexuais entre as idades de 11 e 14 anos, cobrou US$700.000 da Sociedade Torre de Vigia de Bíblias e Tratados do Canadá e de três dos anciãos num processo civil de 1998, que os acusava de negligência e de falha em suas obrigações. Um juiz, em junho, deu-lhe ganho de causa no valor de $5.000, mas nenhuma acusação criminal foi confirmada quanto às alegações de abuso.
“É muita inocência, eles acharem que eu deva pagar as custas”, disse Boer, em Fredericton, numa entrevista na Quarta-feira.
“Paguei pelo abuso, paguei por tudo o que aconteceu e agora eles ainda querem que eu pague novamente.”
Ela, anteriormente, solicitara que a Torre de Vigia pagasse seus custos legais que ela estimava em US$90.000. Colin Stevenson, o advogado representando a Torre de Vigia, confirmou na Quarta-feira que o grupo religioso está pedindo que Boer pague parte de seus custos no litígio legal. Stevenson disse que a Torre de Vigia não estava sendo vingativa.
“A Torre de Vigia não está empenhada em nenhuma ‘vendetta’ ao tentar receber de Vicki Boer os custos”, disse Stevenson.
Espera-se que a decisão da Juíza Anne Molloy sobre os custos legais, caso venham a ser cobrados, seja anunciada no final de agosto. No processo civil, Boer alegou que, ao invés de notificar imeditamente a Sociedade de Apoio à Infância (“Children’s Aid Society”), os anciãos instruíram-na a não buscar ajuda e a não relatar o caso de abuso. Ela também disse que eles a fizeram confrontar o seu pai para que ele se arrependesse de seus pecados de acordo com os princípios bíblicos.
Mas a Juíza Anne Molloy despachou que, embora Boer tenha, certamente, encarado uma experiência traumática, a igreja, em última análise, não foi responsável por toda a dor e sofrimento dela. Molloy inocentou os três anciãos de qualquer culpa, mas ordenou que a igreja pagasse a Boer US$5.000 por causa do que um de seus anciãos – que não foi indiciado no processo –falou com ela durante o confronto com seu pai, o que foi uma aplicação errada de sua fé. Molloy concluiu que a igreja nunca proibiu Boer de buscar ajuda profissional nem a impediu de relatar às autoridades o caso de abuso. Embora, normalmente, as vítimas de abuso sexual não sejam identificadas em público, Boer concordou que seu caso fosse publicado como parte de seu esforço para promover o que ela chamou de abuso nos porões das congregações da igreja.