COMO TUDO COMEÇOU
Sebastião Ramos
Ativista Sebastião Ramos
Ex-Testemunha de Jeová
Ex-Testemunha de Jeová
Sou o Sebastião Ramos, das lutas sindicais, das passeatas e das manifestações que fiz na defesa dos direitos trabalhistas de nossa categoria, sem esquecer a causa dos oprimidos e desgraçados sociais.
Uma retrospectiva que pode fazer despertar.
Quando surgiu a excomunhão na Igreja Católica, foi na época que fui desassociado. Aproveitei a oportunidade, para escrever um artigo em que a sua temática perguntou: Quem Realmente Tem Autoridade Para Excomungar? Este texto foi publicado em mais de 80 mídias, praticamente em quase todos os estados do Brasil. À medida que foram surgindo outros acontecimentos, prossegui denunciando a desassociação que sempre a considerei como sendo o calcanhar de Aquiles da organização.
O Simpósio Nacional de História na UFC foi muito oportuno para escrever outro artigo relatando a história do Ceará que em algum aspecto mudou o Brasil! Fatos relevantes foram destacados em seu conteúdo. Exemplos: A lei Maria da Penha, a primeira prefeita de Capital, a libertação dos escravos e a Padaria Espiritual. Após mencionar os referidos fatos, passei a descrever que os cearenses por não tolerar injustiça, detectam mais uma forma de escravidão que estava escondida à luz, a desassociação da Igreja Testemunhas de Jeová. Além de inúmeros veículos que publicaram o referido texto, distribui 1.000 cópias do mesmo entre os participantes do referido Simpósio.
O jornalismo que desponta em nossos dias, no cenário midiático, é o de cunho denunciativo e de investigação, e, portanto, os meus textos, desde o início cumpriam o papel de denunciar, questionar e ao mesmo tempo proporcionar aos leitores fatos investigativos. Tenho que me desdobrar para criar um fato político de impacto visando escrever mais um texto sobre a desassociação, pensei.
Certo dia, acordei de manhã bem cedo, desejoso de procurar o Ministério Público. Chegando lá, fui encaminhado diretamente a Área Criminal, onde a principio, um promotor ouviu atentamente os meus queixumes. Relatei que fui desassociado por falar bem da religião. Mostrei-lhe, as matérias anteriores que escrevi em diversos veículos, destacadamente, O Povo, o Jornal Indústria e Comércio de Curitiba, a Revista Folha da Praia, BA, dentre outros do país.
À medida que fazia minhas intervenções, outros colegas de sala se envolviam em nossa conversa e todos ficavam pasmados. No final, citei o artigo XVIII da declaração universal dos direitos humanos, que afirma categoricamente que, todos têm o direito à liberdade de entrar numa religião ou optar por outra crença, no entanto, na referida organização religiosa que estava denunciando não havia essa possibilidade, essa foi a minha argumentação. E então, um dos promotores disse: Sebastião, parece que esta religião está mesmo violando este artigo! Respondi, claro, Dr., quem entra na Igreja Testemunhas de Jeová não pode mais sair, pelo fato do tratamento persecutório ser o mesmo, tanto para a pessoa que é expulsa, como para quem se dissocia voluntariamente. Nesta hora me mandaram ao departamento da área civil, e em pouco tempo estava formalizada a denúncia. Apesar da denúncia não ter gerado um processo de imediato, sai da sala muito feliz e passei a escrever o último texto que foi publicado recentemente: Ministério Público acata denúncia contra a desassociação das Testemunhas de Jeová! Na semana seguinte, recebi um telefonema do MP informando-me, que a denúncia tinha sido acatada e gerado um Processo. Amigos, todo este movimento está acontecendo, exclusivamente por causa da desassociação.
Observem, por favor, o que a desassociação proporcionou até agora:
Vários textos em diversas mídias; a ação no Ministério Público; um Inquérito Policial, que levou os anciãos a prestarem depoimento numa Delegacia de Polícia; três manifestações ousadas e organizadas: uma, na Delegacia; participamos de uma Passeata de policiais militares, e por último, fizemos uma manifestação no Salão de Assembléias. As outras modalidades que se seguem não estão fora do contexto desassociatório. Outra modalidade inovadora foi a distribuição de Xerox dos textos feita de casa em casa, de bairro em bairro, colocando-os nas caixas de correio. Na época, não conhecia o nosso amigo Pascoal, fazia tudo sozinho. Com o tempo, um ex-evangélico me acompanhou, e, ainda hoje ele está conosco na luta. Outros eventos que surgiram: Debate na TV União, Reportagem na TV Assembléia, um espaço na Rádio AM do Povo, e as referidas manifestações públicas que atingiram de cheio a sociedade e agora, as próprias testemunhas de Jeová.
Outro fato a ser considerado é que esta aguerrida equipe que comparece a estas manifestações, enfrenta desafios com destemor e prepara-se para grandes batalhas futuras. Estamos em fase de crescimento. Antes, éramos dois, eu o Pascoal, agora já somos dez. Amanhã, quem sabe, se o pequeno não se tornará mil? Uma coisa é certa, não arredamos o pé de continuar com a desassociação. Não vamos trocá-la, por qualquer outra coisa, principalmente, agora quando o Inquérito Policial está sendo encaminhado para o Ministério Público. Não sabemos, se o promotor irá se manifestar antes do recesso que começa a partir do mês de Dezembro, mas, iremos fazer mais uma manifestação em frente ao Prédio do MP. Quiséramos nós que a decisão viesse sair em Fevereiro, pois, teríamos um espaço de tempo maior para continuarmos com as nossas mobilizações.
Me faz lembrar de uma história que meu pai contava. Um senhor constrói uma Igreja no interior e coloca São Roque como o padroeiro. Sempre na hora do sermão o padre mencionava o nome de São Roque, e assim, as ofertas aumentavam. Certo dia, o dono da igreja propôs ao padre, que toda vez que ele pronunciasse o nome do santo, durante o seu sermão, lhe daria uma quantia de dinheiro. E assim ele aceitou a oferta, e logo no dia seguinte começou a pregar: São Roque era um homem muito santo. Roque, se tornou santo porque era caridoso. São Roque acolhia os aflitos. Ah, se todos nós seguíssemos os passos de São Roque. Meus caríssimos irmãos, São Roque, era carpinteiro e fazia milagres até quando cerrava madeira. O serrote dele ecoava: roque, roque, roque, roque, roque, roque... O dono da Igreja gritou: padre, não tenho mais dinheiro para lhe pagar, pare!
Ilustrando: Assim, faço o mesmo com a desassociação. Nunca deixarei de falar sobre este assunto que tem gerado questionamentos infindáveis no seio da sociedade. E isso é muito bom para expor a crueldade que vem sendo praticada pela Igreja Testemunhas de Jeová. Vivemos num mundo em que a única coisa que a humanidade se mexe é quando se brinca com o sentimento alheio. Entretanto, a desassociação tem nos dado combustível suficiente para mobilizar até mesmo as testemunhas de Jeová, através de nossas faixas e mobilizações.
Temos que dizer as pessoas e as testemunhas de Jeová que a desassociação, da forma como vem sendo aplicada, não é uma disciplina amorosa, mas danosa, sobretudo, porque fere emocionalmente, a todos os envolvidos: associados, desassociados e dissociados.
Alguém poderia questionar que o número de pessoas que estão conosco é insignificante, porém, têm um objetivo claro: continuaremos denunciando a sociedade à discriminação religiosa das testemunhas de Jeová em todas as suas circunstâncias, e por todos os meios possíveis, até que não haja mais necessidade. Entretanto, ao passo que a dissidência passar a compreender que a ação no Ministério Público, o depoimento dos anciãos foram pontos significativos para desbancar a desassociação, certamente engrossará as fileiras das manifestações em todos os estados, do Brasil, e em uma só voz, gritaremos em uníssono:
ABAIXO A DESASSOCIAÇÃO ATERRORIZANTE!