POR QUE ALGUMAS TESTEMUNHAS DE JEOVÁ ACEITAM SANGUE E REJEITAM CONSCIENCIOSAMENTE A POLÍTICA OFICIAL DA SOCIEDADE TORRE DE VIGIA
Lee Elder
The Associated Jehovah's Witnesses for Reform on Blood
(Testemunhas de Jeová Associadas Para Reforma na Questão do Sangue)
Resumo
Nas suas respostas ao Dr. Osamu Muramoto (daqui em diante, Muramoto) os porta-vozes da Watchtower Society (Sociedade Torre de Vigia, daqui em diante STV) David Malyon e Donald Ridley (daqui em diante Malyon e Ridley),1, 2, 3 negam muitas das críticas levantadas contra a STV por Muramoto.4, 5, 6 Neste artigo argumento como uma Testemunha de Jeová e em nome dos membros da AJWRB [Associated Jehovah's Witnesses for Reform on Blood (Testemunhas de Jeová Associadas Para Reforma na Questão do Sangue)] em como não existe base bíblica para a proibição parcial de sangue da STV e que esta opinião teológica dissidente deve ser tornada clara para todos os pacientes Testemunhas de Jeová que rejeitam sangue por motivos religiosos. Tais pacientes devem ter garantida a confidencialidade caso aceitem sangue total ou componentes que estão proibidos pela STV. Argumento contra a alegação de Malyon e Ridley de que a política da STV permite liberdade de consciência para Testemunhas de Jeová individuais e que é não-coerciva e não-punitiva ao lidar com dissidência conscienciosa, e questiono a noção de que existe apoio monolítico à política da STV a respeito do sangue entre aqueles que se identificam a si mesmos como Testemunhas de Jeová e usam a "Declaração Médica Antecipada".
(Journal of Medical Ethics 2000; 26: 375-380)
Introdução
Tendo em consideração a resposta dos representantes da STV Malyon e Ridley aos artigos de Muramoto sobre o dilema da comunidade médica ao tratar com sangue pacientes Testemunhas de Jeová, achei apropriado apresentar outro ponto de vista a partir de dentro das fileiras das próprias Testemunhas de Jeová. Um número significativo de Testemunhas de Jeová concluiu que não podem apoiar a política da STV a respeito do sangue. Por questionarem aspectos irracionais desta política, médicos em diferentes países têm ajudado Testemunhas de Jeová individuais, anciãos das Testemunhas de Jeová e membros das comissões de ligação com hospitais (daqui em diante, COLIH) a compreender as inconsistências na doutrina da STV a respeito do sangue.
Sou uma Testemunha de Jeová de terceira geração, tenho sido durante a maior parte da minha vida um aderente leal à doutrina da STV, e fui ancião de uma congregação durante dez anos. A minha avó materna teve a sua vida encurtada devido à sua lealdade inabalável ao mandato da STV que proíbe as Testemunhas de Jeová de aceitarem uma transfusão de sangue. Poderia ela ter sido persuadida de modo diferente se o seu médico tivesse discutido com ela os fatos conforme sugerido por Muramoto? Talvez. Não lhe foi oferecida alternativa.
Enquanto Testemunhas de Jeová leais, não temos alternativa senão aceitar inquestionavelmente os ditames da STV. Questionar a organização e as suas políticas é igualado a questionar a autoridade do Deus Todo-Poderoso, e é quase certo que resultará em ser chamado perante um tribunal de anciãos na congregação sob acusações de "apostasia". A menos que seja expresso arrependimento num grau que satisfaça os representantes da organização, a pessoa é sujeita à sanção mais severa da STV, a expulsão (sendo "desassociado") da organização, com a imposição do mandato associado do ostracismo. Segundo uma declaração de 1994, cada ano a STV desassocia cerca de 40.000 membros, ou aproximadamente 1% dos seus membros. Isto significa isolamento da associação ou convivência normal com a família e amigos de longa data que são membros -- nem mesmo sendo cumprimentados por eles se passarem por si na rua.7 A menos que os membros desassociados demonstrem arrependimento e humildade durante meses ou anos, com a subsequente "readmissão", as penalidades continuam permanentemente em vigor.
Malyon, Ridley e a STV fogem às questões críticas
Foi com grande interesse que muitos de nós lemos as respostas de Malyon e Ridley a Muramoto, pois é inconcebível que estes artigos tenham sido publicados sem aprovação dos escalões mais elevados de autoridade da STV. Anteriormente, membros da AJWRB procuraram clarificação da STV nas questões que Muramoto levantou, sem respostas além de avisos verbais para não insistir no assunto. Se esperávamos respostas ou explicações racionais para as contradições manifestas na doutrina da STV a respeito do sangue, estava-nos reservado outro desapontamento.
Talvez não nos devesse surpreender que Malyon e Ridley tenham sustentado a posição da STV e contornado as questões controversas. Ainda assim, sentimo-nos compelidos a perguntar: "Onde estão as respostas às perguntas sérias que Muramoto levantou?"
As principais entre estas seriam.
- Os versículos da Bíblia contra "tomar sangue" referem-se a comê-lo ou bebê-lo. Que texto bíblico estende isto às transfusões de sangue?
- Se as escrituras proíbem as transfusões de sangue, porque é que a STV permite a transfusão/injeção de todas as frações do sangue enquanto ao mesmo tempo proíbe a transfusão de sangue total?
- Porque é que a STV permite que as Testemunhas de Jeová aceitem todos os componentes separados do plasma, mas proíbe o próprio plasma?
- Porque é que componentes como as plaquetas (0,17% do volume do sangue) e os glóbulos brancos (1% do volume do sangue) são proibidos enquanto um componente maior como a albumina (2,2%) é permitida?8
- Que tipo de ética permite às Testemunhas de Jeová aceitar numerosos produtos derivados do sangue permitidos pela STV e beneficiar-se do sangue doado por pessoas que não são Testemunhas de Jeová, e no entanto não lhes permite contribuir para o suprimento de sangue?
- Tendo em vista que tratamentos hemofílicos permitidos [pela STV] requerem a recolha e armazenamento de grandes quantidades de sangue (até 2500 unidades para um único tratamento), porque é que a STV proíbe que as Testemunhas de Jeová armazenem o seu próprio sangue? Porquê a duplicidade de critérios?
- Porque é que o requerimento da STV à Comissão Européia dos Direitos Humanos (daqui em diante, CEDH) declara que "não existem controlos ou sanções" contra uma Testemunha de Jeová que aceite sangue (ou componentes sangüíneos não aprovados [pela STV]) quando todas as Testemunhas de Jeová sabe que isso não é verdade?9
Malyon defende as mudanças de política
As Testemunhas de Jeová Associadas Para Reforma na Questão do Sangue documentaram muitas modificações na política da STV a respeito do sangue.10 Foram feitas decisões de vida ou morte com base nessas políticas, e a conformidade era geralmente obrigatória. Malyon defende estas mudanças perguntando: "Desde quando é que uma pessoa mudar de idéias passou a ser crime?" A implicação enganadora dele é que as Testemunhas de Jeová, enquanto grupo, mudaram de idéias quanto ao uso do sangue, componentes do sangue, transplantes de órgãos e vacinas. Na verdade, só ao corpo governante da STV é permitida essa liberdade intelectual.
As Testemunhas de Jeová comuns têm de se submeter às políticas correntes da STV ou enfrentar uma "comissão judicativa" e ser desassociadas -- um procedimento que Malyon defende comparando-o a um médico que tem a sua licença [para exercer medicina] suspensa pela Ordem dos Médicos. Mas será que a Ordem dos Médicos tentaria impedir os amigos e a família do médico de lhe falarem? Será que a Ordem dos Médicos suspenderia as licenças de outros médicos por estes continuarem a falar com o médico cuja licença fora suspensa? Não é a comparação de Malyon uma falsa analogia?
Além disso, o processo judicial da STV não é um "exame pelos pares" como Malyon alega. Não existe uma transcrição completa do procedimento sobre a qual se pudesse basear um apelo, não há direito a representação, não há regras de evidência, etc. É uma ação "à porta fechada" sem verificações e equilíbrios adequados. Malyon tenta defender a vacilante política médica da STV comparando-a com a de outras organizações, como a British Medical Association (BMA) [Associação Médica Britânica], que pode ter mudado as suas opiniões em assuntos tais como as vacinas. No entanto, ao contrário da STV, a BMA baseia as suas decisões em sólidas descobertas científicas e não impõe a conformidade com o seu conselho médico através de medidas disciplinares extremas que assumem autoridade divina exclusiva do Deus Todo-Poderoso.
Duvido que Malyon ou Ridley pudessem ter antecipado as revisões significativas que a STV fez à sua política do sangue, conforme delineado num artigo de "Perguntas dos Leitores" na edição de 15 de junho de 2000 de A Sentinela.8 Nesse artigo encontramos o que parecem ser mudanças subtis, mas um exame mais de perto revela reformas significativas.
A STV parece ter mudado mais uma vez a sua política a respeito das frações do sangue que permite que as Testemunhas de Jeová aceitem. A STV agora estipula que embora os "componentes primários" do sangue -- nomeadamente os glóbulos vermelhos, glóbulos brancos, plaquetas e plasma -- sejam proibidos, frações de todos os "componentes primários" são agora permitidas. Embora tais termos sejam desprovidos de sentido para um cristão -- a Bíblia nada diz acerca de componentes primários ou secundários -- a política parece refletir o fato de ser comum os bancos de sangue separarem o sangue desta maneira por razões comerciais.
Talvez o mais interessante seja que o artigo declara que "quando a questão envolve frações de quaisquercomponentes primários, cada cristão deve conscienciosamente decidir o que fazer, após cuidadosa meditação com oração."8
A declaração é subtil e algumas Testemunhas de Jeová inicialmente não notarão a sua importância. Não obstante, assinala uma importante mudança na política -- as Testemunhas de Jeová agora aceitam conscienciosamente qualquer produto [derivado] do sangue que seja uma "fração derivada dos componentes primários". Anteriormente, só era permitido às Testemunhas de Jeová aceitar frações do plasma. Será que esta mudança subtil cria o potencial para as Testemunhas de Jeová se beneficiarem de substitutos do sangue à base de hemoglobina que estão sendo desenvolvidos? Parece que faz exatamente isso, pois a hemoglobina é obtida fracionando os glóbulos vermelhos. Estes desenvolvimentos têm de ser monitorizados de perto, pois os substitutos do sangue têm o potencial de reduzir dramaticamente as mortes entre a população de Testemunhas de Jeová. Estou contente com este desenvolvimento, embora esteja preocupado com o nível de confusão entre as Testemunhas de Jeová e a comunidade médica, pois a STV, de um modo que lhe é típico, ofusca as suas intenções de modo a não provocar controvérsia entre os seus membros.
O caos da política da STV a respeito do sangue
Em outubro de 1999, a AJWRB patrocinou um stand na conferência American College of Emergency Physicians [Colégio Americano de Médicos de Emergências] em Las Vegas, Nevada, EUA. Ali tivemos oportunidade de levar a nossa mensagem diretamente a médicos e ouvir os seus pensamentos e preocupações. Um tema recorrente nestes intercâmbios foi a confusão entre os médicos quanto às terapias envolvendo sangue que as Testemunhas de Jeová aceitam e o dilema ético que os médicos enfrentam quando se deparam com um paciente Testemunha de Jeová inconsciente e com uma hemorragia.
Um médico contou uma experiência envolvendo um homem Testemunha de Jeová de 21 anos de idade, inconsciente, que precisava de uma transfusão de sangue. Ele trazia a "Declaração Médica Antecipada" e a família insistiu que não fossem dadas transfusões de sangue. Num momento, o homem recuperou a consciência e declarou que não queria morrer. Ele pediu a transfusão, que foi dada, e a vida do homem foi salva. O que teria acontecido, porém, se o paciente não tivesse recuperado temporariamente a consciência? Este homem, tal como todas as Testemunhas de Jeová, reúne-se num pequeno grupo chamado "estudo do livro", onde um ancião está normalmente presente para se certificar de que cada membro completou a sua "Declaração Médica Antecipada" e assinou na presença de testemunhas. Como pode estar envolvida uma certa medida de coerção e persuasão ao ser assinada a "Declaração Médica Antecipada", e como algumas Testemunhas de Jeová aceitarão sangue sob certas circunstâncias, temos um dilema ético, especialmente para médicos que lidam com emergências. Estas condições, ligadas ao fato de poucos médicos, e mesmo as próprias Testemunhas de Jeová, compreenderem as complexidades da política da STV a respeito do sangue, são uma receita para o desastre. Não é invulgar Testemunhas de Jeová rejeitarem tratamentos ou terapias envolvendo sangue, que a STV permite, simplesmente porque não estão a par de que agora os podem aceitar. A política da STV a respeito do sangue continua num estado de desordem, sem respostas credíveis às questões de fundo levantadas pela AJWRB. Além disso, algumas Testemunhas de Jeová, incluindo números significativos de anciãos e membros dos COLIH, concluíram que não podem continuar a apoiar conscienciosamente a política da STV. Muitos estão frustrados devido ao falhanço da STV em providenciar respostas significativas e estão profundamente perturbados pelo número de mortos que esta política produziu. Malyon retrata uma imagem de apoio monolítico à política do sangue dentro da comunidade das Testemunhas de Jeová. Nada podia estar mais longe da verdade.
Riscos/benefícios das transfusões de sangue
Malyon dá atenção considerável à defesa da eficácia da terapia alternativa sem sangue. Estão os membros das COLIH, como Malyon, qualificados para avaliar as necessidades médicas de Testemunhas de Jeová individuais confrontadas com uma decisão entre terapias com e sem sangue, ou é este o papel do médico? É importante notar que um grupo de oito membros de COLIH elaborou um tratado aconselhando cautela no que diz respeito ao uso de técnicas que não envolvem sangue, pois observaram resultados trágicos desses procedimentos dentro da comunidade das Testemunhas de Jeová.11 Conforme Doyle observa: "Embora tenha sido feito muito quanto à reconsideração médica das propriedades de risco/benefício das transfusões de sangue em resultado do HIV e da SIDA, as transfusões de sangue continuam a ser essenciais para a vida num grande número de situações clínicas. Pacientes que recusam uma transfusão de sangue considerada absolutamente necessária por um médico, colocam-se em risco de morrer de anemia grave. Por exemplo, Carson et al estudaram 125 pacientes cirúrgicos que eram Testemunhas de Jeová e por isso recusaram transfusões de sangue. Descobriu-se que mais de 60% dos pacientes cuja hemoglobina antes da operação caiu abaixo das 6 g/dl morreram a seguir à cirurgia."12
Transfusões de sangue e crianças Testemunhas de Jeová
Malyon apresenta uma imagem distorcida da posição da STV sobre as crianças Testemunhas de Jeová no que diz respeito à questão do sangue. Ele diz que uma "criança não pode ser uma Testemunha de Jeová" visto que as Testemunhas de Jeová praticam "batismo mentalmente competente". (O batismo é o rito formal para indução como membro das Testemunhas de Jeová.) Na verdade, a STV permite que crianças de muito tenra idade sejam batizadas, desde que consigam responder corretamente a certas perguntas. Eu fui batizado com 9 anos de idade. Isto não é invulgar, conforme a STV reconheceu.13 Espera-se que crianças batizadas desta tenra idade entendam as complexidades da questão do sangue e apoiem a política da STV a respeito do sangue se surgir a ocasião, mesmo ao ponto de removerem o sistema endovenoso do seu braço se isso for necessário para evitar a transfusão.14 A desobediência à política da STV pode resultar em desassociação, o mesmo que no caso de um adulto.
Destacadas na capa da revista Despertai! de 22 de maio de 1994 (uma publicação oficial da STV) estão as fotografias de 26 crianças Testemunhas de Jeová, com a legenda: "Jovens que colocaram Deus em primeiro lugar". No interior, a revista proclama: "No passado, milhares de jovens morreram porque colocaram Deus em primeiro lugar. Ainda há jovens assim, só que hoje o drama acontece em hospitais e tribunais, tendo como questão as transfusões de sangue."15 O governo da Bulgária estava suficientemente preocupado com esta situação para estipular no seu acordo com a STV que menores Testemunhas de Jeová batizados não podem receber a "Declaração Médica Antecipada" da STV, que proíbe o uso de sangue e de componentes do sangue não permitidos pela STV em caso de emergência.16
Quão decidida está a STV em evitar que as crianças Testemunhas de Jeová recebam uma transfusão de sangue? Repare nestes comentários dirigidos a pais Testemunhas de Jeová na edição de setembro de 1992 do Nosso Ministério do Reino (uma publicação que não é distribuída ao público), nas páginas 3-6: "[...] já tomaram toda medida razoável para proteger seus filhos pequenos duma transfusão de sangue? [...] deve-se tornar claro a todos os envolvidos que vocês, como pais, sentem-se na obrigação de continuar fazendo tudo ao seu alcance para impedir a transfusão. Esta é a responsabilidade que Deus lhes deu. [...] Se apesar de todos os esforços for emitido um alvará judicial, continuem a implorar ao médico para não dar a transfusão [...] Assim, mesmo após a emissão dum alvará judicial, jamais desistam!"
Conhecem-se casos em que pais Testemunhas de Jeová, para obedecer a essas palavras, resistiram aos médicos e levaram embora do hospital crianças desesperadamente doentes, para evitar uma transfusão de sangue ordenada por um tribunal.17 Será que as Testemunhas de Jeová simplesmente concluem por si mesmas que isto é algo que devem fazer? Repare nos seguintes comentários de A Sentinela para pais Testemunhas: "Se o cristão fizer esforços muito enérgicos para evitar a violação da lei de Deus sobre o sangue, as autoridades talvez o considerem violador da lei ou o sujeitem a um processo judicial. Se isto resultar numa punição, o cristão poderá encarar tal situação como sofrer por causa da justiça."18
Não obstante, os comentários de Malyon podem indicar que a posição da STV acerca de transfusões de sangue em crianças está a começar a suavizar-se. No entanto, acredito que tal como no caso das concessões feitas na Bulgária, a STV está simplesmente a comprometer-se em países onde o governo é muito decidido na proteção das vidas de crianças menores. Espero que outros governos tomem nota sobre o que aconteceu na Bulgária e impeçam a STV de emitir "Declarações Médicas Antecipadas" para Testemunhas de Jeová menores.
Malyon, Ridley e a STV têm de ser vistos com ceticismo
Conforme foi observado por Muramoto, as Testemunhas de Jeová que vivem na Bulgária parecem ser uma excepção à política da STV a respeito do sangue. Nesse país, segundo o requerimento da STV à CEDH e acordo posterior com a Bulgária, as Testemunhas de Jeová são livres de escolher terapias envolvendo sangue "sem qualquer controlo ou sanções" por parte da STV.19 Infelizmente, a maioria das Testemunhas de Jeová desconhece que a STV entrou em tal acordo, ou são levadas a acreditar que é uma interpretação equivocada propagandeada por "apóstatas" (ex-membros), ou talvez um erro feito pela CEDH, visto que a STV proclama que nenhuma mudança ocorreu na política do sangue. O fato de as Testemunhas de Jeová estarem tão dispostas a acreditar nisso é um testemunho adicional do controlo que a STV exerce sobre a maioria dos membros, o que os torna não receptivos a informação que lhes daria um melhor entendimento dos assuntos.
O requerimento oficial da STV junto da CEDH deturpa de forma flagrante a sua política do sangue ao declarar que não existem controlos ou sanções para uma Testemunha de Jeová que aceita sangue. O documento pode ser visto no site da Internet da AJWRB.9 Também possuímos um comunicado à imprensa emitido pelo escritório de relações públicas da STV no qual esta afirma que não ocorreu qualquer mudança de política na Bulgária.20 Somos assim obrigados a perguntar qual é verdade: o requerimento perante a CEDH e o acordo subsequente com a Bulgária ou o comunicado à imprensa? Malyon, Ridley e a STV tentam contornar esta questão declarando que não "aplicam sanções arbitrariamente", que não têm uma "política automática de desassociação", que querem oferecer "cuidados pastorais" e que neste sentido não existem "controlos ou sanções". Essa lógica tortuosa é análoga a declarar que não existe "sanção" para o assassinato capital, porque nem o veredicto nem a sentença são aplicados arbitrariamente ou automaticamente!
Liberdade dentro da Sociedade Torre de Vigia
Ironicamente, se interrogados, os representantes da STV afirmarão que as Testemunhas de Jeová estão "livres para escolher" que terapias de sangue podem aceitar. Isto é um truque semântico pois as Testemunhas de Jeová só estão autorizadas a aceitar, sem ação disciplinar, certos componentes do sangue atualmente permitidos pela organização. O que estes porta-vozes querem dizer é que as Testemunhas de Jeová são "livres para escolher" se estão dispostas a aceitar as conseqüências, incluindo a expulsão. Por essa lógica, as pessoas são livres para desobedecer às leis do país se estiverem dispostas a pagar as penalidades por procederem desse modo. Certa vez servi com um ancião que me disse que achava que não teria outra hipótese senão desassociar uma pessoa que tomou uma transfusão de sangue. Embora as opiniões desse homem não representem as de todos os anciãos das Testemunhas de Jeová, acredito que a opinião é comum.
Em 14 de junho de 1998, concedi uma entrevista na rádio a Roger Bolton da BBC, junto com Paul Gillies, um porta-voz oficial da STV em Londres.21 Durante o programa, foi feita ao Sr. Gillies a seguinte pergunta pelo entrevistador Roger Bolton: "Há alguma margem para debate democrático entre as Testemunhas de Jeová? Quero dizer, poder-se-ia argumentar, vocês mudaram de idéias quanto aos transplantes, não podiam mudar de idéias quanto às transfusões de sangue? Não devia haver um debate aberto entre os membros?"
Resposta de Paul Gillies: "Bem, nós encorajamos discussão aberta. De fato, nós encorajamos todos os cabeças das famílias a discutirem com a sua família todos os vários procedimentos e implicações médicas do sangue com as suas famílias de modo que, se surgir uma situação médica, ele está muito claro na sua própria mente sobre que várias escolhas tem e o que pode fazer. Nas nossas reuniões também temos discussões abertas."
Esta declaração é, mais uma vez, outro exemplo de contornar a questão através do uso de palavras enganadoras. O que isso deixa implícito é que existe uma medida de latitude para as famílias e as congregações discutirem abertamente a inteira gama de terapias de sangue e fazerem decisões pessoais sobre quais podem aceitar; isso obviamente não é verdade. Se isso é verdade, então porque é que a STV desassocia membros que falam abertamente e às vezes em privado contra a política atual? Em 1999, um homem Testemunha de Jeová nos EUA, Wayne Rogers, foi denunciado pela sua esposa aos anciãos da congregação simplesmente porque enviou um e-mail à AJWRB expressando apoio aos nossos esforços de promover a reforma desta doutrina da STV. O homem foi prontamente desassociado, apesar do seu pedido de misericórdia e desejo de continuar como uma Testemunha de Jeová. Pouco tempo depois os anciãos aparentemente disseram à esposa deste homem que ela tinha o direito a deixá-lo visto que continuar com um apóstata representava um "absoluto perigo à espiritualidade". Esta é a triste realidade do "cuidado pastoral" da STV, e não é um incidente isolado. E o Sr. Ridley ainda fala de "afeições e tratos familiares normais". Recentemente, uma Testemunha de Jeová no Reino Unido, Ray Hemming, foi desassociado simplesmente por questionar a política da STV a respeito do sangue e Rado Vleugel, um pioneiro regular (ministro de tempo integral) Testemunha de Jeová, da Holanda, foi desassociado depois de falar com jornalistas sobre a política da STV a respeito do sangue. Uma senhora Testemunha de Jeová que é membro da AJWRB disse apropriadamente: "O que é então a livre vontade ou a liberdade de escolha? Se um ladrão me apontar uma arma à cabeça e me ordenar que lhe dê o meu dinheiro, será que tenho livre vontade ao tomar a minha decisão? Eu na realidade não lhe quero dar o dinheiro, mas também não quero morrer. Isto não é uma livre escolha, ou será que é? ... a STV detém o mesmo poder sobre as Testemunhas de Jeová.... No caso de aceitar certos produtos do sangue, a escolha é entre morrer e ser desassociado por seguir a própria consciência. Não há nada como ter uma 'arma da STV' apontada à minha cabeça. O meu dinheiro não está sendo roubado, mas a minha paz mental está."
Existe pouca margem para liberdade ou autonomia do paciente dentro do atual sistema da STV, apesar das afirmações de Malyon, Ridley e da STV.
Grupos autoritários de 'alto controlo'
Malyon não só fracassou em lidar com as questões de fundo que Muramoto levantou e em apaziguar a dissonância cognitiva resultante da avaliação séria dos ensinos da STV sobre o sangue, como também rejeitou as opiniões das atuais e anteriores Testemunhas de Jeová que discordam com a STV, dizendo que vêm de "rebeldes". Ao criticar Testemunhas de Jeová dissidentes como eu por apresentarmos o nosso caso sob o anonimato, ele desconsidera o fato obvio de que o legalismo imposto pela STV não permite qualquer alternativa viável, conforme já foi longamente discutido. Assim, Malyon providenciou uma excelente demonstração de como um indivíduo racional se rende à autoridade de um grupo religioso de alto controlo. Ridley rejeita a existência de controlo da mente entre as Testemunhas de Jeová e cita um relatório que "determinou que teorias de manipulação coerciva ou 'controlo da mente' conforme aplicadas a movimentos religiosos são desprovidas de qualquer fundamento científico e não deviam ser apresentadas como científicas". Muramoto responderá aos comentários de Ridley num artigo que será publicado neste jornal. A minha observação é que a existência de coerção de grupo entre as Testemunhas de Jeová é real e não está em séria disputa visto que a STV tenta controlar agressivamente as emoções, o comportamento e os pensamentos dos seus membros, bem como o fluxo de informação. No meu próprio caso, a pressão para o conformismo levou-me a continuar a usar na minha carteira a Declaração Médica Antecipada da STV durante quase três anos depois de já não aceitar mais a política.
Por que os membros da AJWRB acreditam que a política da STV a respeito do sangue está errada
Embora reconheçamos que a Bíblia fala contra o mau uso do sangue, é importante notar que isto é sempre no contexto de usá-lo como alimento, conforme A Sentinela reconheceu: "Toda vez que a proibição do sangue é mencionada nas Escrituras, é em relação a tomá-lo como alimento, e por isso é como nutriente que estamos preocupados com ser ele proibido".22
A questão primária é saber se uma transfusão de sangue é ou não o equivalente de comer sangue. Claramente, não é. Uma transfusão de sangue não é uma refeição, é antes um transplante de tecido ou de órgão. Não existe qualquer benefício nutritivo como seria o caso se uma pessoa comesse sangue e o digerisse. A STV tem tentado contornar estes fatos comparando uma transfusão de sangue à alimentação intravenosa.
No entanto, essa analogia está errada pois componentes como a dextrose são usados pelo corpo como alimento sem digestão. O sangue transfundido não pode ser usado pelo corpo como alimento, da mesma forma que um coração ou rim transplantado não pode ser usado como alimento.
A analogia seguinte talvez ajude. Considere dois pacientes que estão impossibilitados de comer, e que são admitidos a um hospital. A um deles é dada uma transfusão de sangue e ao outro é dada alimentação intravenosa. Qual dos dois está recebendo nutrição e qual viverá? Claramente, os médicos não prescrevem transfusões de sangue para tratar subnutrição, mas antes para substituir algo que o paciente perdeu, geralmente os glóbulos vermelhos necessários para transportar oxigênio. Como não pode ser estabelecido que uma transfusão de sangue é alimentar-se de sangue ou o equivalente a comer sangue, o elo crítico para o apoio bíblico à política da STV a respeito do sangue não existe.
Raciocinando com pacientes Testemunhas de Jeová que não estão familiarizados com a AJWRB
Antes de discutir a ausência de fundamento bíblico para a política da STV a respeito do sangue, acreditamos que é útil encorajar primeiro o paciente Testemunha de Jeová a realmente pensar sobre as contradições da política da STV a respeito do sangue. Propomos que sejam usadas as seguintes perguntas e declarações:
"Poderia você, como uma Testemunha de Jeová, por favor explicar-me quais as terapias envolvendo sangue que pode aceitar, quais as que não pode, e porquê a diferença?" "Estou especialmente interessado em saber onde é que a Bíblia explica quais as partes do sangue que você pode ou não pode aceitar." "Por favor não me dê uma publicação pois estou demasiado ocupado para ler, nem me peça para falar com um ancião da sua congregação. É importante que eu compreenda o que você pensa neste momento e por que está preparado para morrer devido a este assunto caso se esgotem as alternativas sem sangue."
Repare que algumas Testemunhas de Jeová desconhecem que a STV permite que os seus membros aceitem todos os produtos do sangue produzidos a partir do fracionamento dos glóbulos vermelhos, glóbulos brancos, plaquetas e plasma. Isto incluiria, mas não só, o seguinte: albumina, todos os fatores coagulantes, todas as imunoglobulinas, fibrinogênio, EPO, interferons, interleukins, e outras frações celulares.23
Convidamo-lo a visitar a seção dedicada aos médicos no site da Internet da AJWRB, onde encontrará muitos recursos que o podem ajudar. O endereço é: http://www.ajwrb.org/. Médicos, pessoas que se ocupam da ética médica, capelães de hospitais e outras pessoas interessadas podem obter informação atualizada e brochuras úteis no site da Internet ou escrevendo diretamente à AJWRB.
Conclusão
Espero sinceramente que médicos sigam as sugestões de Muramoto para seguirem paternalismo racional não-interventivo. Conforme Muramoto revelou, descobrirão que a maioria das Testemunhas de Jeová não estão adequadamente informadas para tomarem uma decisão autônoma sobre o tratamento com sangue. No entanto, lamentavelmente, estão preparadas para sacrificar as suas próprias vidas ou a vida de uma criança para apoiar uma política irracional que é revista com freqüência e pode um dia ser completamente abandonada, conforme foram as anteriores proibições da STV sobre vacinas, transplantes de órgãos, e numerosos componentes do sangue. Até lá, a melhor esperança para as Testemunhas de Jeová é que médicos preocupados as envolvam nos tipos de discussão sugeridos por Muramoto.
Desta maneira, a perda de vidas pode ser, e já tem sido, reduzida. Acredito que um maior escrutínio público pode compelir a STV a reformar a sua doutrina do sangue de modo que as Testemunhas de Jeová terão liberdade para fazer uma escolha conscienciosa sem medo de sanções que as separariam dos seus amigos e entes queridos.
Sobre o autorO interesse do autor pela doutrina da STV a respeito do sangue aumentou depois de várias trocas de mensagens através da Internet com um médico, em 1995. Ele passou o ano de 1996 investigando a história da política antes de concluir que tinha sido cometido um erro trágico. Depois de fracassar em abrir um diálogo com Daniel Sydlik, um membro do corpo governante, o autor abriu o site da Internet "New Light on Blood" ["Nova Luz Sobre o Sangue"]. Tornou-se rapidamente obvio que muitos anciãos Testemunhas de Jeová e membros das COLIH tinham chegado a conclusões similares, mas não tinham qualquer fórum onde discuti-las em segurança. O autor é o fundador da AJWRB e mantém o seu estatuto como uma Testemunha de Jeová, o que requer anonimato para as suas atividades envolvendo a Internet e a reforma com a AJWRB. Medo de punição draconiana força-o a escrever sob um pseudônimo, mas o editor tem garantia quanto à sua boa fé. A sua diligência em procurar a reforma da doutrina da STV a respeito do sangue é motivada pela sua preocupação pelos companheiros Testemunhas de Jeová. Lee Elder (The Liberal Elder) é Diretor da Associated Jehovah's Witnesses for Reform on Blood (AJWRB) [Testemunhas de Jeová Associadas Para Reforma na Questão do Sangue].
Referências e notas
1 Malyon, D. "Transfusion-free treatment of Jehovah's Witnesses: respecting the autonomous patient's rights" ["Tratamento das Testemunhas de Jeová sem transfusões: respeitando os direitos autônomos do paciente"]. Journal of Medical Ethics 1998;24:302-307.
2 Malyon, D. "Transfusion-free treatment of Jehovah's Witnesses: respecting the autonomous patient's motives" ["Tratamento das Testemunhas de Jeová sem transfusões: respeitando os motivos autônomos do paciente"]. Journal of Medical Ethics 1998;24:376-381.
3 Ridley, D. "Jehovah's Witnesses' refusal of blood: obedience to scripture and religious conscience" ["A recusa de sangue das Testemunhas de Jeová: obediência às escrituras e à consciência religiosa"]. Journal of Medical Ethics 1999;25:469-472.
4 Muramoto, O. "Bioethics of the refusal of blood by Jehovah's Witnesses: part 1. Should bioethical deliberation consider dissident's views?" ["Bioética da recusa do sangue pelas Testemunhas de Jeová: parte 1. Deve a deliberação bioética considerar as opiniões dos dissidentes?"] Journal of Medical Ethics 1998;24:223-230.
5 Muramoto, O. "Bioethics of the refusal of blood by Jehovah's Witnesses: part 2. A novel approach based on rational non-interventional paternalism" ["Bioética da recusa do sangue pelas Testemunhas de Jeová: parte 2. Uma nova abordagem baseada em paternalismo racional não-interventivo"] Journal of Medical Ethics1998;24:295-301.
6 Muramoto, O. "Bioethics of the refusal of blood by Jehovah's Witnesses: part 3. A proposal for a don't-ask-don't-tell policy" ["Bioética da recusa do sangue pelas Testemunhas de Jeová: parte 3. Uma proposta para uma política de nem-perguntas-nem-respostas"] Journal of Medical Ethics 1998;25:463-468.
7 Anônimo. "Está resistindo ao espírito do mundo?" A Sentinela, 1.º de abril de 1994, p. 16.
8 Anônimo. "Perguntas dos Leitores". A Sentinela, 15 de junho de 2000, pp. 29-31.
9 Anônimo. New light on blood [Nova luz sobre o sangue]. Watchtower commits perjury? [Watchtower comete perjúrio?] AJWRB, 1998, URL: http://ajwrb.org/watchtower/watchtower-commits-perjury
10 Anônimo. New light on blood [Nova luz sobre o sangue]. The historical perspective [A perspectiva histórica] AJWRB, 1997, URL: http://ajwrb.org/the-historical-perspective
11 Anônimo. New light on blood [Nova luz sobre o sangue]. The HLC perspective [A perspectiva das COLIH] AJWRB, 1997, URL: http://www.ajwrb.org/basics/hlc.shtml
12 Doyle, J. Risks of avoiding "necessary" blood transfusions [Riscos de evitar transfusões de sangue "necessárias"] AJWRB, 1998. URL: http://www.ajwrb.org/physicians/doyle-risksavoiding.shtml
13 Anônimo. "A confiança em Jeová leva à dedicação e ao batismo", A Sentinela, 15 de março de 1988, pp. 14, 15.
14 Anônimo. "Jovens com 'poder além do normal'", Despertai!, 22 de maio de 1994, p. 14.
15 Anônimo. Conteúdo. Despertai!, 22 de maio de 1994, p. 2.
16 Report of the European Commission on Human Rights. Application no 28626/95 [Relatório da Comissão Européia dos Direitos Humanos. Requerimento n.º 28626/95]. New light on blood [Nova luz sobre o sangue]. The Bulgarian Files [Os Ficheiros da Bulgária], AJWRB, 1998. URL: http://ajwrb.org/bulgaria/
17 Anônimo. New light on blood [Nova luz sobre o sangue]. Stories that break hearts [Histórias que quebram corações] AJWRB, 1997, URL: http://ajwrb.org/experiences/stories-that-break-hearts
18 Anônimo. "Perguntas dos Leitores". A Sentinela, 15 de junho de 1991, p. 31.
19 O documento original está disponível no URL: http://194.250.50.201/eng/E276INFO.148.html. Communiqué issued by the Secretary to the European Commission of Human Rights. Information note no 148 on the 276th session of the European Commission of Human Rights [Comunicado emitido pelo Secretário da Comissão Européia dos Direitos Humanos. Nota informativa n.º 148 sobre a 276.ª sessão da Comissão Européia dos Direitos Humanos]. (Strasbourg, Monday 2 March -- Friday 13 March 1998). O texto completo do "acordo amigável" em francês está disponível no URL: http://194.250.50.201/eng/28626.28.html
20 Anônimo. Escritório de Relações Públicas da STV. Veja: Watchtower blood policy in Bulgaria -- a crime, an outrage, and a delusion! [A política da Torre de Vigia a respeito do sangue na Bulgária -- crime, ultraje e embuste!] AJWRB, 1998. URL: http://www.ajwrb.org/basics/abandon.shtml
21 Transcrição da entrevista com The Liberal Elder e Paul Gillies, porta-voz da STV, por Roger Bolton em Sunday, BBC Radio 4, em 14 de junho de 1998. AJWRB, 1998.
22 Anônimo. "Perguntas dos Leitores". The Watchtower, 15 de Setembro de 1958, p. 575 [em inglês].
23 Muramoto, O. "Recent developments in medical care of Jehovah's Witnesses" ["Desenvolvimentos recentes no cuidado médico de Testemunhas de Jeová"]. Western Journal of Medicine, 1999;170: 297-301.