1 PEDRO 3:1-6
1 “Semelhantemente, vós, mulheres, sede sujeitas ao vosso próprio marido, para que também, se algum não obedece à palavra, pelo procedimento de sua mulher seja ganho sem palavra,
2 considerando a vossa vida casta, em temor.
3 O enfeite delas não seja o exterior, no frisado dos cabelos, no uso de jóias de ouro, na compostura de vestes,
4 mas o homem encoberto no coração ["mas seja o do íntimo do coração", na Almeida Revisada], no incorruptível trajo de um espírito manso e quieto, que é precioso diante de Deus.
5 Porque assim se adornavam também antigamente as santas mulheres que esperavam em Deus e estavam sujeitas ao seu próprio marido,
6 como Sara obedecia a Abraão, chamando-lhe senhor, da qual vós sois filhas, fazendo o bem e não temendo nenhum espanto.”
— Almeida Revista e Corrigida.
ANÁLISE
Dito de modo simples, estas palavras foram escritas para enfatizar que o adorno primariamente belo para Deus é o "procedimento", a "vida casta, em temor", o “incorruptível trajo de um espírito manso e quieto”. Este é o tipo de beleza que Deus mais aprecia em uma pessoa! O SENHOR não vê como algo fundamental a ornamentação física. Ele "olha para o coração". — 1 Samuel 16:7.
Leitor, diga-me uma coisa: Não concorda que seria mais valioso um marido descrente "seja ganho" (isto é, aceitar a mensagem de Deus) não por deixar ser influenciado unicamente pela beleza física de sua esposa, mas, principalmente, por notar a formosura de sua conduta no dia a dia? (Versículos 1 e 2) É justamente esta a mensagem principal que Pedro quer transmitir. O fato é: a ausência ou presença de joias não garante a beleza interior de alguém...
1 PEDRO 3:3
"O enfeite delas não seja o exterior, no frisado dos cabelos, no uso de joias de ouro, na compostura de vestes..."
— Almeida Revista e Corrigida.
Ao dizer "não" para a "compostura de vestes", Pedro não incentivou que as mulheres andassem descompostas ou totalmente nuas, sem “vestes”, ou com trapos assim como não incentivou o total abandono do “frisado dos cabelos” ou o “uso de jóias de ouro”. Apenas destacava o equilíbrio no vestir, sem usar extremos.
1 PEDRO 3:3
"O vosso adorno não seja o enfeite exterior, como as tranças dos cabelos, o uso de jóias de ouro, ou o luxo dos vestidos..."
— Almeida Atualizada.
Sobre "O vosso adorno não seja... o luxo dos vestidos" , note o comentário de J. David Newman, D.Min. Pastor da New Hope Seventh-day Adventist Church:
"Um ponto interessante diz a respeito da frase 'o luxo dos vestidos' ou roupas. Não existe nenhum adjetivo modificando a palavra 'vestes/roupas' no grego. Pedro está literalmente dizendo 'não use vestes/roupas'. É claro que não acreditamos que Pedro está dizendo que não devemos usar roupas e é por isso que o qualificador foi adicionado. Mas ele não existe no grego. Se podemos adicionar um qualificador aqui, seria também lógico adicionar um qualificador antes de 'joias de ouro', indicando o seu uso inapropriado, excessivo."
Pedro diz que as mulheres cristãs seriam "filhas" (versículo 6) das santas mulheres do passado apenas se imitassem a conduta exemplar delas — colocando a beleza espiritual acima da beleza física. Que excelente exemplo para as mulheres de hoje!
Sobre os versículos 3 e 4, leia o bom comentário do missionário Donald Stamps, impresso na Bíblia de Estudo Pentecostal (edição de 1995), página 1941:
A expressão "o enfeite delas não seja o exterior" (versículo 3) não está ali pretendendo condenar ornamentos, e, por outro lado, também não incentiva a negligenciar a aparência exterior. Como sabemos disso? Basicamente, por duas evidências:
1ª EVIDÊNCIA
Uma coisa é certa: o escritor não condena adornos. Ele simplesmente usa uma expressão idiomática corriqueira da época. Era comum os judeus dizerem algo do tipo "não assim... mas assim," ou "não... sim," quando o significado real era "nem tanto... mas muito mais" ou "não primariamente... mas especialmente".
Parece fácil, não é? E realmente é simples! Em 1 Pedro 3:3, 4 temos a expressão "não... mas". Confira: No versículo 3 ele usou o "não" e no versículo 4 ele usou o "mas". Embora usasse a palavra "não", o objetivo desta construção gramatical era contrastar uma coisa com outra, destacando aquilo que era de maior ou vital importância. De modo algum servia para impor uma proibição absoluta ao que era menos importante.
Esta característica semítica do "não... mas" também esteve presente nos escritos de Paulo. Note:
1 CORÍNTIOS 1:17
"Porque Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o evangelho;
não em sabedoria de palavras, para não se tornar vã a cruz de Cristo."
— Almeida Revisada Imprensa Bíblica.
Pergunto: Visto que Paulo falou claramente que não foi enviado por Cristo para batizar, devemos entender que Paulo a ninguém batizou, certo? Errado! Aqui aparece a expressão "não... mas". Logo, devemos entender que Paulo batizou sim! Permita que o próprio Paulo lhe mostre o contexto de sua palavras:
1 CORÍNTIOS 1:14-17
"14 Dou graças a Deus que a nenhum de vós batizei, senão a Crispo e a Gaio;
15 para que ninguém diga que fostes batizados em meu nome.
16 É verdade, batizei também a família de Estéfanas, além destes, não sei se batizei algum outro.
17 Porque Cristo não me enviou para batizar, mas para pregar o evangelho; não em sabedoria de palavras, para não se tornar vã a cruz de Cristo."
— Almeida Revisada Imprensa Bíblica.
Para se entender corretamente, é obrigatório entender que aqui se faz uso da costumeira expressão de ênfase numa atividade sem negar a outra. Repare a presença da expressão "não... mas". Veja bem: O que Paulo não fazia era dar prioridade ou primazia ao batismo. Paulo, de fato, não batizava como se isto fosse a atividade principal em sua carreira missionária. Paulo não se destacava por batizar a outros. De modo similar, a expressão "não... mas" em relação ao adornos significa destaque em prioridades. Não é a beleza externa a principal, mas, a interna, do coração, das ações.
Ainda não entendeu o sentido da expressão idiomática judaica "não... mas", leitor? Perceba que Jesus usou a expressão "não... mas" quando disse:
JOÃO 6:27
"Trabalhai não pela comida que perece, mas pela comida que permanece para a vida eterna..."
— Almeida Revista e Corrigida.
Ao dizer "trabalhai, não pela comida que perece", estava Jesus proibindo que trabalhássemos para obter nossa alimentação física? Claro que não! Embora usasse a palavra "não", Jesus, ao usar esta expressão idiomática judaica, simplesmente realçava o que era de suma importância — sem proibir o que era menos importante. Embora seja correto trabalhar pela comida, o trabalho básico ou fundamental para o crente é para a "vida eterna", não para a vida material. Este é o entendimento bíblico correto. Portanto, no texto, Jesus quer dizer:
"Trabalhai não [unicamente ou somente] pela comida que perece, mas [principalmente ou primariamente] pela comida que permanece para a vida eterna..."
Que o trabalho para conseguir o próprio sustento é aprovado por Deus, pode ser visto, por exemplo, em Atos 18:3 e 2 Tessalonicenses 3:8-15. Verifique.
Antes de passarmos para a segunda evidência, que tal outro exemplo? Vamos lá. Jesus também disse:
LUCAS 14: 12, 13
"12 E dizia também ao que o tinha convidado: Quando deres um jantar, ou uma ceia, não chames os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem vizinhos ricos, para que não suceda que também eles te tornem a convidar, e te seja isso recompensado. 13 Mas, quando fizeres convite, chama os pobres, aleijados, mancos e cegos."
— Almeida Corrigida Fiel.
Aqui Jesus também usou uma expressão de ênfase, de prioridade. Jesus usou a expressão "não... nem... mas". Se ignorássemos que Jesus está a usar uma expressão idiomática judaica, deveríamos crer que é errado convidar amigos, irmãos e parentes para jantar ou ceiar. No entanto, não é isso o que Jesus quer dizer pois, em João 2:2, ele mesmo participou de uma ceia com seus amigos. Além disso, Lucas 22:7-23 registra que Jesus promoveu uma "ceia" somente com seus amigos — sem a presença de "pobres, aleijados, mancos e cegos". Fazendo assim, Jesus não esta se contradizendo. Por qual razão? Porque Jesus, quando disse "quando deres um jantar ou uma ceia, não chames os teus amigos", não disse apenas isso e terminou de falar. Não! Não era só isso o que Jesus disse. A frase continua. É obrigatório entender que Jesus continuava falando, mas, usando a expressão idiomática de ênfase.
Portanto, leitor, poderíamos entender as palavras de Jesus em Lucas 14:12, 13 assim:
"E dizia também ao que o tinha convidado: Quando deres um jantar ou uma ceia, não chames [somente ou toda vez] os teus amigos, nem os teus irmãos, nem os teus parentes, nem vizinhos ricos, para que não suceda que também eles te tornem a convidar, e te seja isso recompensado. Mas, quando fizeres convite, chama [também] os pobres, aleijados, mancos e cegos..."
Prestou bem atenção nos exemplos acima, onde Jesus emprega a expressão idiomática judaica?
Assim como Jesus, Pedro, ao usar a expressão idiomática judaica "não... mas" em 1 Pedro 3:3, 4, aponta para prioridades, não para restrições arbitrárias. Pedro não condena o uso de adornos ou de apetrechos femininos. Ele enfatiza que mulheres piedosas devem dar prioridade à pessoa interior, sem necessariamente, terem que abandonar enfeites literais. Pedro visa destacar um ponto sem excluir o outro.
FIGURA DE LINGUAGEM
A presença de "não... mas" não garante automaticamente o uso da expressão idiomática judaica. Então, como saber quando ela ocorre?
Não será expressão idiomática quando o "não" acompanhar uma explicação do por quê daquilo ser errado aos olhos de Deus. Por exemplo, lemos em Efésio 5:18:
"E não vos embriagueis com vinho, no qual há devassidão, mas enchei-vos do Espírito". (João Ferreira de Almeida Atualizada)
Não, aqui não se permite a "embriaguês com vinho" desde que se priorize o "encher-se com o Espírito". Estas palavras não sugerem isso simplesmente porque não usou-se a expressão idiomática. Paulo não disse apenas "não vos embriagueis com vinho, mas enchei-vos do Espírito".
Se este fosse o caso, seria um problema interpretar isso como expressão idiomática. Porém, Paulo não escreveu assim! Não se trata de uma figura de linguagem devido a presença da frase esclarecedora "no qual há devassidão". "No qual há devassidão" é simplesmente um reforço explicativo condenatório visto que inexiste a "embriaguês com vinho" aprovada por Deus e, sem dúvida, toda "devassidão" é algo que Deus reprova.
2ª EVIDÊNCIA
Pense no que Pedro diz:
5 Porque assim se adornavam também antigamente as santas mulheres que esperavam em Deus e estavam sujeitas ao seu próprio marido, 6 como Sara obedecia a Abraão, chamando-lhe senhor, da qual vós sois filhas, fazendo o bem e não temendo nenhum espanto.”
É importante ter em mente dois aspectos:
1º - É fato consumado que as "santas mulheres" do passado "se adornavam". O texto diz isso!
2º - O modo delas usarem adornos é exemplo ideal para as cristãs de hoje.
Apenas por seguir o excelente modo de se adornar de tais "santas" é que as mulheres cristãs seriam honrosamente consideradas "filhas" ou imitadoras delas. Pedro diz que as cristãs devem se adornar como faziam estas mulheres. Sendo assim, as cristãs devem espelhar-se no exemplo destas mulheres.
Agora, leitor, a pergunta que nos levará a uma resposta esclarecedora é: Como se adornavam "antigamente as santas mulheres"? Será que estas mulheres 'santas' usavam enfeites literais tais como anel e pulseira ou o seu adorno era apenas o de excelentes ações no dia a dia? Após uma cuidadosa investigação, o que descobrimos? Entre as ditas "santas mulheres", encontramos mulheres dignas tais como Rebeca e sulamita - usando - adornos literais. Vejamos a base bíblica:
SULAMITA
Era Sulamita uma mulher santa? Sim! Referem-se a ela expressões tais como “teus enfeites”, “teu colar”, “teus ungüentos” e “a fragrância dos teus vestidos”. Ela mesma declarou: “minhas mãos destilavam mirra”.
O uso de tais produtos, certamente não a impediu de ser considerada como modelo de fidelidade e lealdade para as servas de Deus. Doutrinas humanas não podem mudar isso. — Confira em Cantares de Salomão 1:10, 11; 4:9-11; 5:5.
Para saber mais sobre os adornos da jovem sulamita: aqui
REBECA
Assim como Sara respeitava Abraão, Rebeca — mulher escolhida por Deus para esposa de Isaque — respeitava seu marido. Embora usasse “pendente” e “pulseiras”, é evidente que Rebeca dava a tais um lugar secundário.
Além disso, lembre-se de que Abraão, marido de Sara, a quem Pedro qualifica como "santa", presenteou Rebeca com joias. Assim, Abraão não pensava que uma serva de Deus devesse estar totalmente livre de adornos.
Reflita: Na questão das joias, estamos pensando como Rebeca e Abraão ou discordamos deles? — Confira em Gênesis 24:22, 30, 47, 53.
Poderá saber mais sobre os adornos de Rebeca neste artigo, aqui
Embora Rebeca e a jovem sulamita usassem adornos externos, não podemos ter dúvidas que estas "santas mulheres" tinham o conceito adequado. De fato, através de um exame bíblico, percebemos que servos de Deus DERAM, USARAM e RECEBERAM joias, enfeites e roupas bonitas sem recriminação do Criador.
Como bem escreveu Pedro, o enfeite principal delas não era o "exterior" mas o do "íntimo do coração". É este mesmo conceito que as mulheres atuais devem ter. Caso tenham outro raciocínio, estarão repudiando a orientação inspirada do apóstolo Pedro.
As santas mulheres de hoje não são fanáticas e compreendem bem as seguintes palavras:
PROVÉRBIOS 31:30
“Enganosa é a graça, e vaidade, a formosura, mas a mulher que teme ao SENHOR, essa será louvada."
— Almeida Revista e Corrigida.
PROVÉRBIOS 11:22
"Como jóia de ouro em focinho de porca, assim é a mulher formosa que se aparta da razão."
— Almeida Revista e Corrigida.