ESTUDO 03
A "EXPLICAÇÃO" DO CORPO GOVERNANTE
Desde que pude verificar, a presença de ilustrações problemáticas em livros e revistas das Testemunhas de Jeová ganharam impulso nos anos 50. É lógico presumir que, desde então, o Corpo Governante (isto é, a liderança das TJs) vem recebendo perguntas sobre tais ilustrações. Em todo caso, a coisa esquentou no início dos anos 80. O ti-ti-ti foi tanto que originou precárias linhas dentro do artigo "Deve espalhar um boato?", em inglês, na revista A Sentinela de 1º de setembro de 1984, páginas 20 e 21.
Interessante é que, lá em 1984, o Corpo Governante decidiu que o artigo da revista – considerado "alimento espiritual apropriado" de Jeová – era totalmente inapropriado para os brasileiros e não publicou o artigo em português. Por anos, Jeová ficou como que no banco de espera aguardando a publicação de seu "alimento". Finalmente, o Corpo Governante autorizou que Jeová falasse por incluir idêntico texto na revista Despertai! de 8 de fevereiro de 1989, páginas 15-18 — cerca de seis anos após a publicação do artigo original!
O que foi dito aos milhares de leitores da revista? Após citar alguns "boatos absurdos que surgem e fervilham rapidamente", lemos:
Até mesmo as publicações da Sociedade Torre de Vigia (EUA) têm sido objeto de boatos – por exemplo, que um dos ilustradores estivera introduzindo secretamente gravuras de demônios nas ilustrações, que ele foi posteriormente descoberto e desassociado!
Participou em espalhar qualquer dessas histórias? Caso sim, você esteve ― talvez sem o saber ― divulgando uma inverdade, visto que todas elas eram falsas. Por certo, o boato a respeito das publicações da Sociedade era prejudicial, bem como caluniava os zelosos cristãos que trabalham longas horas na produção das ilustrações que tornam as revistas, as brochuras e os livros tão atraentes. Isto era tão ridículo como seria dizer que Deus, ao criar os corpos celestes, fez deliberadamente aparecer o aspecto de 'um homem na lua'.
Considere:
■ O Corpo Governante refere-se apenas às "gravuras de demônios". Portanto, a matéria não pode ser usada para explicar o porquê de símbolos, gestos, plágio e de outras formações bizarras espalhadas em suas publicações. (Sobre isso a liderança nunca arriscou uma explicação.) Além do mais, o texto limita-se às imagens publicadas até 1984, ou, o mais tardar, até 1989. Desde então, a liderança silencia sobre o tema. Permanece caladinha, caladinha...
■ O Corpo Governante afirma vigorosamente ser "boato", "inverdade", "[história] falsa", "prejudicial" e "calúnia" que quaisquer dos "zelosos cristãos que trabalham longas horas na produção das ilustrações" tenham incluído "gravuras de demônios nas ilustrações".
■ O Corpo Governante coloca a 'mão no fogo' pelos que produzem os desenhos. Sem exceção, diz que todos são "zelosos cristãos". Leitor, após você ter analisado as mais de 300 figuras denunciadas, será mesmo que são todos "zelosos cristãos"? Por exemplo, foram "zelosos cristãos" os envolvidos no plágio da capa da revista Reader's Digest? (Figura nº 079) Foi "zelo" a inclusão de uma atriz francesa entre as mulheres cobiçadas pelos anjos? (Figura nº 075)
É possível que o Corpo Governante tenha sido sincero sobre uma coisa em sua negação: nenhum ilustrador foi "descoberto e desassociado"! De fato, o passar dos anos vem demonstrando que certos ilustradores (ou outros com o mesmo propósito) permanecem intocáveis no posto haja vista, por exemplo, a atual continuação de gravuras com um ou outro personagem gesticulando com estranha posição dos dedos — algo que acontece, pelo menos, desde os anos 50.
Definitivamente, a possibilidade de haver alguma "introdução secreta" indesejável é classificada como "ridícula", "boato absurdo".
Daí, como se já tivesse esclarecido tudo tim-tim por tim-tim, o Corpo Governante simplesmente passa a incutir na mente dos leitores que divulgar essa história faz do indivíduo um "caluniador" e coisa e tal.
Mais adiante, a revista indaga:
Assim, como podemos determinar se uma história é verídica ou se é apenas um boato?
Sinceramente? Para as TJs a resposta é muuuito fácil. Se os homens da liderança da organização disserem que uma história é verídica, será a mais verídica de todas. Se disserem que é boato, será o mais desprezível boato. Simples assim. Quem manda é a organização. Quem raciocina é a organização. A nenhum seguidor batizado é permitido nem mesmo "questionar o conselho provido pela organização". (A Sentinela de 15 de julho de 1983, página 22, parágrafo 21.) "Todos na congregação encaram como dever sagrado seguir e apoiar as orientações do escravo fiel e de seu Corpo Governante." — A Sentinela de 1º de abril de 2007, página 24, parágrafo 13.
"NÃO FAÇAIS SEGUNDO AS AÇÕES DELES"
A revista prossegue dizendo:
Eis algumas das coisas a se ter presente quando alguém lhe divulga uma informação atraente: Quem lhe contou tal história?... Será que quem lhe contou essa história estava em condições de saber dos fatos?... É caluniosa essa história?... É plausível tal história?
Tudo muito bonito. Porém, faz lembrar as palavras de Jesus dirigidas aos escribas e fariseus, em Mateus 23:2-4:
'não façais segundo as ações deles, pois dizem, mas não realizam.
Amarram cargas pesadas e as põem nos ombros dos homens,
mas eles mesmos não estão dispostos nem a movê-las com o dedo.'
O Corpo Governante cobra dos leitores algo que não faz de jeito nenhum em seu artigo 'esclarecedor'. Eles dizem sobre "algumas das coisas a se ter presente quando alguém lhe divulga uma informação"...
■ ... 'mas eles mesmos não estão dispostos' a revelar para os leitores da revista "quem lhe contou tal história" do "boato"! Até 1989, quando foi publicado o artigo em português, possivelmente inúmeras cartas, a nível mundial, indagavam sobre este tema. Hoje em dia, principalmente, a internet torna público este assunto, ou nas palavras da liderança, "contam tal história".
■ ... 'mas eles mesmos não estão dispostos' a dizer para seus leitores se quem "contou essa história estava em condições de saber dos fatos"!
■ ... 'mas eles mesmos não estão dispostos' a permitir que seus leitores analisem por si mesmos a fim de decidir se "é caluniosa essa história" quando omitem quais são as ilustrações vítimas de "boatos"!
E, como se não bastasse, o Corpo Governante simplesmente conclui no lugar do leitor que não é "plausível tal história"!
Por fim, o artigo orienta:
... se o leitor ouvir uma história e não puder indicar a fonte dela, reflita por si mesmo e assegure-se dos fatos, antes de transmiti-la a outros.
O boato tanto pode ser verdadeiro como falso, mesmo que não saibamos a fonte dele. O que torna o boato verdadeiro não é o fato de não sabermos a fonte e sim o fato do boato contar aquilo que está em conformidade com a realidade dos fatos. Mesmo uma fonte má pode falar verdade, assim como uma fonte boa pode falar falsidade. Cabe ao leitor comparar a afirmação com os fatos para saber se a fonte fala a verdade ou a falsidade.
"Se o leitor ouvir uma história... assegure-se dos fatos, antes de transmiti-la a outros."
Assim, mesmo desconhecendo a fonte de uma "história", o Corpo Governante diz que você poderá transmiti-la após "refletir por si mesmo e assegurar-se dos fatos". (Porém, na prática, quando o assunto surgir, o que o Corpo Governante quer mesmo, leitor, é que você diga a outros que tudo não passa de mero "boato" e encerre a conversa no ato, imediatamente.)
Porém, pergunto: como o artigo do Corpo Governante ajuda o leitor a "refletir por si mesmo, e assegurar-se dos fatos"? Assim: apenas dizendo com voz quase angelical que tudo não passa de "boato". Quer dizer, na prática, não ajuda em nada ou quase nada. É isso "reflexão" suficiente?
Do jeito que é, o leitor é conduzido a crer cegamente na alegação de inocência das ilustrações. E é exatamente isso que fazem as TJs até porque não podem examinar qualquer gravura pois não se lhes mostra nenhuma — o que seria crucial para esclarecer a questão. Caso mostrassem, o leitor estaria frente a frente com as ilustrações e, então, poderia "refletir por si mesmo, e assegurar-se" se a história das figuras mascaradas "é verídica ou se é apenas um boato".
Como reage uma Testemunha de Jeová quando indagada sobre este tema?
Provavelmente, a Testemunha ficará surpresa. E, não importa se Jeová tenha inspirado as palavras de Provérbios 18:13: "Quando alguém replica a um assunto antes de ouvi-lo, é tolice da sua parte e uma humilhação"; em defesa de sua organização, infelizmente, a Testemunha será ágil em "replicar" o "assunto antes de ouvi-lo", isto é, sem verificá-lo por completo. Dirá automaticamente que tudo é mentira de opositores.
Também, de nada valerá a orientação dada na Despertai! de 22 de julho de 1982, página 28: "A verdadeira elucidação inclui os dois lados de uma questão, não apenas os fatos que apóiem sua própria espécie de teologia."
É triste dizer, mas, na prática, tanto o texto bíblico como o artigo são apenas para outros aplicarem. Não servem para as Testemunhas. Ora, nesse momento, vale tudo para defender a organização!
Este modo de agir, certamente faz lembrar as poderosas palavras divinas: "Tu, pois, que ensinas outro, não te ensinas a ti mesmo? Tu, que pregas: 'Não furtes', furtas? Tu, que dizes: 'Não cometas adultério', cometes adultério? Tu, que expressas [a tua] abominação dos ídolos, roubas templos?" — Romanos 2:21-22.
Caso a TJ vá e pesquise o Índice das Publicações da Torre de Vigia, encontrará o mofado artigo da Despertai!. Então, voltará repetindo, à moda papagaio, o que leu.
Leitor, tenha plena certeza disso: a maioria delas não investigará nenhuma das acusações. Simplesmente será parcial e ouvirá e aceitará de olhos fechados o testemunho de apenas um só lado da questão ― o lado do Corpo Governante!
O Corpo Governante 'esqueceu' de aplicar a si mesmo a verdade expressa por Jesus:
"... Quem faz o que é verdadeiro se chega a luz, a fim de que suas obras sejam manifestas como tendo sido feitas em harmonia com Deus." — João 3:21.
O modo como o Corpo Governante tratou o assunto [e trata até hoje] não combina com o procedimento esperado de "quem faz o que é verdadeiro". Não mostrou abertamente ou "chegou a luz" nenhuma de suas "obras" ou ilustrações comprometedoras a fim de legitimá-las como "feitas em harmonia com Deus". Portanto, também aplica-se o que Jesus já havia dito, a saber:
"Pois quem pratica coisas ruins odeia a luz e não se chega à luz, a fim de que as suas obras não sejam repreendidas." — João 3:20.
Tanto é assim que quem leu apenas o parcial artigo da revista permanece na escuridão no sentido de não saber quais e onde estão as gravuras polêmicas. E, sendo assim, não poderá julgar por si mesmo se a acusação é verídica — algo bem conveniente para quem deseja 'que as suas obras não sejam repreendidas', não é mesmo?
Meditando...
Não é no mínimo suspeito o Corpo Governante não mostrar pelo menos algumas das figuras denunciadas para provar logo de uma vez por todas que estas são verdadeiramente inocentes e que nem um único dos "zelosos cristãos" ilustradores jamais, em tempo algum, produziu qualquer ilustração que necessitasse de correção? Ora, quem não deve, não teme...
Alguém poderá perguntar: 'Mas, as consideradas figuras estranhas, ocultas, não poderiam ser apenas puro acaso, imaginação?'
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